Política Titulo Editorial
Uma mão não lava a outra
Do Diário do Grande ABC
28/09/2016 | 09:00
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Aline Pietri/DGABC


Faz relativamente pouco tempo que, enfrentando uma das piores crises econômicas da história em seu país de origem, a fábrica alemã de automóveis Mercedes-Benz recorreu aos lucros da filial brasileira para equilibrar as contas da matriz. Corria o ano de 2011. Cinco anos depois, a situação se inverteu. Mas a política de compensação utilizada pela companhia deixou de ser seguida. Agora, uma mão não lava mais a outra.

Pelo contrário. Enquanto a unidade europeia considera ter vivido em 2016 um primeiro semestre “ainda melhor” que todo o ano de 2015, já considerado o “melhor da história”, de acordo com palavras ditas recentemente a este Diário por um de seus executivos, Volker Mornhinweg, a filial brasileira agoniza sem que receba nenhum tipo de socorro do Exterior.

O resultado dessa política de mão única é desastroso. Ao completar 60 anos de fundação, hoje, a unidade da montadora alemã em São Bernardo encolhe a olhos vistos. A companhia passa por dificuldades devido à forte crise econômica, que tem reduzido drasticamente a demanda por veículos comerciais, carros-chefes da marca. Somente neste ano, as vendas de caminhões da empresa caíram 23,5% e as de ônibus, 24,7%. Com a diminuição da produção, os empregos precisaram ser cortados. Em intervalo de quatro meses, 2.055 pessoas perderam o emprego na fábrica da Vila Pauliceia.

O fluxo de capitais das montadoras instaladas no Brasil para suas matrizes no estrangeiro também foi de extrema importância para salvar da bancarrota as companhias norte-americanas, por ocasião do efeito devastador na economia dos Estados Unidos provocado pelo estouro da bolha imobiliária, em 2008. Infelizmente, o caminho inverso não é percorrido.

O colapso financeiro tupiniquim, que desintegrou o comércio interno de veículos, parece não interessar às sedes das companhias. Ao Brasil, resta o papel de coadjuvante sempre pronto a socorrer as grandes corporações, sem ter o direito de esperar reciprocidade. Nem mesmo em datas festivas, como é o caso da aniversariante Mercedes-Benz.  




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