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A fantástica estrada dos incas
Danilo Angrimani
Do Diário do Grande ABC
09/11/2002 | 17:15
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Há muitos anos, quando Pedro Álvares Cabral ainda era bebê e Cristóvão Colombo usava fraldas, os incas já passeavam pelo Brasil. Eles saíam de Arequipa e Cuzco, no Peru, atravessavam a Bolívia, o Paraguai e chegavam em São Vicente. É bom lembrar que naquela época nem a Bolívia nem o Paraguai e São Vicente existiam como os conhecemos hoje.

A estrada que ligava o império inca ao Brasil tinha 1m40 de largura; era bem demarcada; atravessava florestas, montanhas e campos; e servia como elo entre o litoral atlântico ao Paraguai, e daí em diante ao sistema de estradas dos incas.

Essa transinca possuía alguns trechos pavimentados com pedras e em outros o solo era demarcado com a gramínea puxa-tripa, uma planta daninha que marca o leito do caminho e impede o crescimento de outras espécies vegetais.

Quem garante que tudo isso aconteceu é o pesquisador, historiador e antropólogo Luiz Galdino, 62 anos, em seu novo livro Peabiru – Os Incas no Brasil, (Estrada Real, 192 págs., R$ 29). O termo peabiru do título do livro significa, em tupi-guarani, caminho antigo de ida e volta.

O principal mérito do trabalho de Galdino é reunir o maior número possível de informações sobre um tema que vem sendo tratado ao longo dos anos de maneira eventual e dispersa. O Barão de Capanema já defendia, no século passado, a hipótese da existência da estrada dos incas.

No prefácio, o historiador Hernani Donato observa que “se (o livro) não comprovar em termos definitivos, pelo menos fundamenta a hipótese de que a rede de caminhos representaria, de fato, o testemunho de antigas incursões, com o propósito de estender o domínio incaico até as margens do Atlântico”.

Segundo o pesquisador Galdino, o bandeirante Raposo Tavares utilizava a estrada inca para se locomover de São Paulo em direção ao Oeste. Por meio da transinca, Raposo Tavares teria chegado ao Peru e depois à Amazônia e ao Pará. Galdino argumenta: “As entradas de Raposo Tavares seriam impossíveis sem a existência e conhecimento daquele primitivo sistema de caminhos”.

Na tentativa de provar sua hipótese, Galdino relaciona marcas de pés, antigos mapas e inscrições gravados em pedras. Ele aponta caracteres e inscrições; mostra sinais, instrumentos, máscaras de cobre, homens zoomorfizados, “que recordam personagens das sociedades arcaicas do Oriente antigo”.

Se o livro de Galdino oferece uma profusão de citações de obras e autores, a obra peca pela insuficiência de disciplina acadêmica, quando faz suas centenas de referências. O pesquisador refere-se, por exemplo, “a alguns autores”, que mencionavam uma história sobre Raposo Tavares de que o bandeirante teria lavado suas mãos no Oceano Pacífico. Que autores? Galdino não esclarece. Faltam notas de pé de página, faltam anotações sobre os livros de onde certas citações foram retiradas.

As 189 páginas e os milhares de registros do livro de Galdino têm, no entanto, um certo charme oculto, um olhar de Eram os Deuses Astronautas? sobre o nosso passado pré-Cabral. Como no livro de Erich von Daniken, pode ter sido apenas uma conjunção de elementos soltos, sem conotação, recolhidos, aqui e ali, montados e transformados em um painel saboroso. Mas também a outra hipótese pode ser verdadeira: e aí os incas teriam atravessado mesmo o Brasil, detidos pelo Atlântico na praia que um dia viria se chamar São Vicente.




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