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Livro de d'Orfeuil fala dos fundamentos da economia cidadã
Danilo Angrimani
Do Diário do Grande ABC
30/11/2002 | 20:34
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Em maio de 1968, uma geração de jovens rebeldes investiu contra a velha ordem. Quase tudo foi questionado: casamento, sexo, educação, família, relações de trabalho, artes, poluição e meio ambiente. Na França, estudantes ocuparam universidades e levantaram bloqueios no Quartier Latin (o bairro boêmio de Paris). As paredes amanheciam pichadas com slogans que refletiam aquele momento especial: “É proibido proibir”, “A imaginação ao poder”. Nos Estados Unidos, protestava-se contra a Guerra do Vietnã. No Brasil, o então líder estudantil José Dirceu era preso pela ditadura militar. Os hippies propagavam “paz e amor”.

Com o colapso do comunismo, simbolizado pela queda do Muro de Berlim em 1989, parecia que o capitalismo e o que ele representava (a desigualdade, a competitividade, a exploração) haviam alcançado sua plenitude – um ponto sem inimigos ou contradições. Um historiador (Francis Fukuyama) chegou até a falar em “fim da história”.

Na prática não foi isso que aconteceu. O desemprego estrutural da economia globalizada provocou sérios danos em países pobres, como o Brasil, e atingiu igualmente nações ricas, como a França, Espanha e Inglaterra. Tiveram início os movimentos antiglobalização e, no embalo, o ressurgimento dos velhos ideais de Maio de 68.

É nesse contexto que trafega o livro Economia Cidadã – Uma alternativa ao Neoliberalismo, do pesquisador francês Henri Rouillé d‘Orfeuil, 56 anos, doutor em Economia e presidente do Conselho de Administração do Instituto de Estudos do Desenvolvimento Econômico e Social da Universidade Paris I – Sorbonne.

D‘Orfeuil faz um histórico dos fundamentos econômicos, lembra as diversas crises provocadas pelo capitalismo e chega às experiências isoladas e locais dos anos 80, quando se começou a buscar alternativas dentro do próprio modelo econômico capitalista.

O autor cita várias casos, como o conceito de clube de investimentos e poupança (Cigale) inventado, em 1983, por Jean-Paul Gautier, com a preocupação de lutar contra a exclusão social; da Associação France Active, que financiava projetos modestos e atípicos; entre dezenas de outros, e chega à constatação que começa a surgir um novo princípio: o da economia solidária ou cidadã.

Em resumo, são grupos de investidores, que passam a capitalizar dinheiro para criar novas alternativas de geração de emprego e inclusão social.

Outra informação de destaque: ao lado dessa economia solidária, surge também o consumidor cidadão, que seleciona o produto no supermercado com base na responsabilidade social do fabricante, que deve mostrar suas iniciativas para combater a exclusão social.

O livro de d‘Orfeuil trata, em síntese, de algo que o brasileiro apoiou em massa no dia 27 de outubro: a tese do “capitalismo humanizado”, defendida pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Se vai dar certo ou não, daqui a quatro anos a gente volta a conversar.




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