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Grampo do BNDES: PF aponta 'ajudante' de suspeito
Do Diário do Grande ABC
08/10/1999 | 19:15
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As investigaçoes sobre o grampo no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) chegaram a um indício de que o ex-coordenador da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no Rio Joao Guilherme Maia tem ligaçoes mais estreitas com o agente Temílson de Resende, o "Telmo" - principal suspeito da escuta telefônica clandestina - do que admitiu. Na escuta autorizada judicialmente feita nos celulares dos suspeitos há conversas entre "Telmo" e Maia.

O laudo dos extratos telefônicos que está sendo elaborado pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC) ainda nao ficou pronto, mas a perícia está levantando ligaçoes de "Telmo" para celulares usados pelo ex-coordenador da Abin. Segundo informaçoes da Abin, "Telmo", apesar de subordinado a Maia, nao se remetia diretamente a ele para tratar de assuntos profissionais: o superior imediato dele era o coordenador da Area de Apoio.

Maia foi acusado pelo ex-policial federal Célio Arêas da Rocha de ter pelo menos conhecimento do grampo porque era muito amigo de "Telmo". O advogado de Maia, José Carlos Tórtima, no entanto, apresentou à Justiça dois ofícios feitos pelo entao coordenador aos superiores pedindo o afastamento do agente. Isto, segundo ele, comprovaria que os dois nao sao amigos - ao contrário, Maia quis até tirar "Telmo" da ativa.

Maia foi indiciado pelo delegado federal Rubens Grandini por falso testemunho. No depoimento, ele entrou em contradiçao com o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Alberto Cardoso, sobre a forma com que as informaçoes a respeito das fitas do grampo teriam chegado à Abin. A versao do general, no entanto, foi confirmada por dois subordinados.

O crime de falso testemunho tem uma pena de dois a seis anos de prisao - maior que o de interceptaçao telefônica, que é de dois a quatro anos.

Com o episódio do grampo, Maia foi afastado da coordenaçao da Abin no Rio, mas a próxima funçao dele será um cargo de confiança em Brasília, subordinado a Alberto Cardoso.

Desde o início das investigaçoes, a polícia tem a convicçao de que o grampo no BNDES foi institucional - feito pela Abin com equipamentos da Abin - e, no meio do caminho, as fitas teriam sido vendidas para uso político. Um dado coletado pela Polícia Federal (PF) nos últimos dias veio reforçar essa hipótese.

Desde janeiro, um grupo de sete a oito agentes da Abin está trabalhando dentro do BNDES nas áreas de telefonia e informática, segurança e documentos sigilosos. A justificativa oficial é de que a Abin quer aperfeiçoar a operaçao desses setores atingidos pelo grampo, tornando-os menos vulneráveis. Mas a polícia questiona se a agência tem atribuiçao oficial para executar esse tipo de serviço dentro de uma estatal.

Nesta sexta, a PF ouviu o coronel do Exército Marcelo Romeiro da Roza, diretor do grupo Network, que trabalha em parceria com a empresa Pert - Engenharia e Consultoria, responsável pela instalaçao da central telefônica do BNDES. O coronel é irmao do presidente da Telemar Rio, Márcio Romeiro da Roza. No depoimento, ele negou ter conhecimentos técnicos sobre a mesa telefônica do banco e alegou estar fora do país quando a instalaçao foi realizada, em 1992.

Em entrevista anterior, porém, Roza citou o trabalho no BNDES como um dos principais executados pelo grupo dele.

O advogado de "Telmo", Carlos Kenigsberg, apresentou nesta sexta ao juiz da 2ª Vara Federal, Alexandre Libonati, contra-razoes ao recurso do Ministério Público Federal (MPF) contra a revogaçao da prisao de "Telmo". O MPF alega que "Telmo" deveria continuar preso porque ofereceria perigo a Rocha e aos procuradores. Nas contra-razoes, Kenigsberg citou um trecho da decisao de revogaçao da prisao, assinada pela juíza Cláudia Valéria Fernandes - que substituía Libonati na ocasiao - segundo o qual nao há indícios suficientes que comprovem as ameaças. O juiz tem prazo até quarta-feira (13) para decidir se manterá a revogaçao ou decretará nova prisao.




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