Segundo ele, o Banco Mundial já teve muitos problemas com o mau aproveitamento dos empréstimos em projetos do setor hídrico - sobretudo irrigaçao e hidrelétricas - em todo o mundo. O banco, entao, estabeleceu padroes institucionais mínimos para habilitar os tomadores de empréstimo e o aproveitamento é maior. Por isso, Briscoe acredita que os mesmos US$ 3 bilhoes anuais gastos pelo banco neste setor, no mundo, possam reverter em mais água para mais gente, nos próximos anos. Ainda assim, o banco ainda pode destinar novos recursos para projetos hídricos, se houver demanda por parte dos governos.
O governo do Ceará recebeu um empréstimo de US$ 160 milhoes do Banco Mundial para a primeira fase de estudos e mudanças institucionais, que levaram à criaçao de uma Companhia Estadual de Aguas (Coger), hoje responsável pelo controle de toda a distribuiçao de água bruta. Estabeleceu também comitês de bacia, com o sistema de prioridades recomendado pelo primeiro Fórum Mundial da Agua, realizado em Dublin, em 1991. Este sistema prevê o abastecimento humano em primeiro lugar, a irrigaçao em segundo e a energia em terceiro. Ou seja, se houver racionamento, ele começa pelo setor energético e termina no abastecimento.
O Ceará inovou também ao ser o primeiro Estado brasileiro a cobrar pela água bruta, controlada pela Coger. "As companhias municipais de água e esgoto, os projetos de irrigaçao e as indústrias sao usuários desta água, que compram da Coger", explica Jereissati. "Esperamos, com a cobrança, incutir nos usuários a noçao de que a água é um bem econômico e escasso e, portanto, nao deve ser desperdiçada".
O governador avalia que a mudança de mentalidade apenas começa a se operar, e só no interior. Em Fortaleza, esta consciência ainda é muito incipiente. "Temos feito campanhas institucionais, mas campanhas sem cobrança nao funcionam", disse Jereissati. Os efeitos da cobrança devem começar a ser sentidos quando as obras necessárias a uma distribuiçao mais equitativa da água estiverem adiantadas. Embora algumas adutoras e açudes tenham sido construídos, a maior parte das obras inicia-se este ano, com a disponibilizaçao, pelo Banco Mundial, de outros US$ 250 milhoes, que vem sendo negociados há 5 anos.
"Esperamos minimizar a sazonalidade na oferta de água e preparar a populaçao para conviver com a escassez, que sempre existirá, mas será mais suportável se houver auto-controle dos desperdícios por parte dos usuários", finaliza o governador.
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