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Chimpanzé faz muito mais do que pintar
Bruna Gonçalves
Especial para o Diário
17/05/2009 | 07:24
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O sucesso do chimpanzé Xico que pinta quadros na novela Caras & Bocas da Rede Globo desperta a curiosidade de a gente saber se um macaco é capaz de produzir uma obra de arte. Os especialistas garantem que sim! Entretanto, ele não tem noção de que o que faz seja considerado arte. É apenas uma brincadeira.

Na novela, são usados truques e efeitos especiais que dão a impressão de que Xico está pintando. Mas, na vida real, muitos zoológicos promovem atividades com os macacos que desenvolvem essa habilidade, entre outras, que demonstram inteligência.

O Zoológico de São Paulo, por exemplo, já ofereceu tinta guache e papel ao grupo de 10 chimpanzés que vive no parque. O resultado não foi muito diferente do que ocorreria com uma turma de crianças pequenas. Fizeram bagunça e brigaram pela disputa do material.

O chimpanzé tem inteligência comparável a de uma criança de 4 anos. Não é à toa que sabe usar galhos, varetas e pedras, como ferramentas, para explorar o ambiente. Entre tantas outras coisas que faz, ele é capaz de pegar um galho, retirar toda a folhagem, lambuzar com cuspe e colocá-lo dentro do cupinzeiro para que os insetos fiquem grudados e ele possa caçar seu alimento.

Muitos estudos comprovam sua capacidade de aprender. No Japão, foi descoberto que o chimpanzé tem memória superior a do homem ao memorizar uma sequência de números no computador. Nos Estados Unidos pesquisadores concluíram que eles usam gestos para se comunicar de forma semelhante à humana e entendem nossa linguagem.

No zoo paulista, são treinados por comandos para facilitar o exame médico. Ao se aproximar deles, o veterinário diz a palavra peito e coloca o estetoscópio. O animal já entende e se aproxima da jaula. (Supervisão Teresa Monteiro)

Bichos são estimulados a interagir
Para que os animais em cativeiro não se sintam desestimulados a interagir com o ambiente, os zoológicos promovem um programa de enriquecimento comportamental para proporcionar bem-estar e qualidade de vida. Desde 2002, o zoo paulista, por exemplo, adota esse programa com 600 dos 3.500 bichos que vivem no parque. Isso porque é preciso fazer um estudo da espécie antes de iniciar as atividades.

Aves, répteis e mamíferos são estimulados três vezes por semana, em diferentes horários, para desenvolver suas habilidades. Eles não são obrigados a interagir, mas todos acabam se divertindo.

Uma dessas atividades é a forma como o alimento é servido. Dentro do seu ambiente é inserido um tambor com furinhos, onde a comida é colocada. O objetivo é fazer com que o chimpanzé, por exemplo, pare e pense como resgatá-la usando uma ferramenta, assim como faria na natureza. Acesse diarinho.dgabc.com.br e assista a um vídeo produzido pelo Diarinho em que é possível acompanhar parte dessa atividade. Outra maneira de oferecer o alimento é dentro de garragas pets com frutas trituradas ou balas de feno.

Tudo começou na década de 1920, mas foi a partir de 1970 que essa iniciativa foi aplicada aos zoológicos dos Estados Unidos, Europa e nos demais países.

Quatro grandes macacões
Na natureza, há mais de 600 espécies de primatas (nome da ordem dos macacos). Entre essas, existem quatro de grande porte: gorila, orangotango, chimpanzé e bonobo (conhecido como chimpanzé pigmeu).

Cada um possui características e comportamentos diferentes. A única coisa que todos têm em comum é a capacidade de usar ferramentas, porém com níveis diferentes.

O chimpanzé é o mais ágil, inteligente e sociável.Essa espécie vive em grupos grandes com um macho dominante, o mesmo acontece com o gorila, no qual o líder tem porte maior e pelo mais prateado.

O orangotango é o mais solitário. O macho vive sozinho e só encontra a fêmea na época da reprodução. Outra diferença entre os demais é que ele tem hábitos arborícolas (vive no alto das árvores). Enquanto que o chimpanzé vive mais no chão.

Todos alimentam-se com produtos de origem animal e vegetal, porém, em proporções diferentes. O chimpanzé é o que come mais proteína animal do que os demais.

Consultoria do étologo Eduardo Ottoni, da USP, e da médica veterinária Paloma Bosso Lucin, do Zoológico de São Paulo

Saiba mais
São muitas as semelhanças entre o macaco e o ser humano, a começar pelo fato de que os dois são primatas.

O DNA (código que define as características dos seres vivos) do chimpanzé e do homem têm 98,7% de igualdade. As mães humanas e as macacas cuidam dos filhotes e ficam com eles um tempão.

Os dois são onívoros (alimentam-se de produtos de origem animal e vegetal) e são capazes de utilizar ferramentas.

O que os diferencia é o nível de desenvolvimento. O homem ampliou sua inteligência, e o macaco não. Embora o chimpanzé, por exemplo, reconheça a própria imagem no espelho, capacidade que uma criança adquire a partir dos 18 meses.

O macaco se comunica por sinais, enquanto o homem tem capacidade mais sofisticada que o permite falar e escrever.

Muitos bichos têm dotes artísticos. No zoo de Heidelberg, na Alemanha, serão leiloadas as telas pintadas pela orangotanga Grisella. O valor arrecadado será utilizado para a construção de uma nova moradia para os macacos.

No mesmo parque, o orangotango Uijan aprendeu a asobiar e participará da gravação de um CD.

Não são só os primatas que têm esse talento. Em 2008, uma galeria de arte italiana expôs quadros feitos pelo cavalo Cholla. Os compradores ganhavam DVD com imagens que mostravam o processo de criação da obra.

O elefante Lankam, do Santuário de Animais da Tailândia, virou estrela depois que começou a pintar quadros. Já fez mais de 100, e o valor da venda ajuda a manter o local.




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