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Brasil só amplia exportaçao de carne com estratégia melhor
Do Diário do Grande ABC
30/05/2000 | 15:06
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O Certificado de Area Livre de Aftosa conferido ao Circuito Pecuário Centro-Oeste brasileiro na semana passada pelo Organizaçao Internacional de Epizootias (OIE) nao é um passaporte seguro para o aumento das exportaçoes de carne bovina. "Os Estados de Rio Grande do Sul e de Santa Catarina já possuem o certificado há um ano e as exportaçoes da regiao nao aumentaram", explica Victor Nehmi, analista da FNP Consultoria. Segundo ele, tao importante quanto o certificado, é a estratégia de comercializaçao dos exportadores e a avaliaçao da necessidade de comprar carne bovina existente hoje no mercado internacional.

Nehmi cita o caso da Argentina que, apesar de possuir o certificado da OIE há um ano, nao conseguiu ainda impulsionar suas exportaçoes. Para o analista, este fato é decorrente do enfoque mercadológico utilizado pela Argentina e pelo Uruguai, baseado na excelência da carne produzida nos pastos dos Pampas. "Este enfoque se apóia na oferta, por parte dos pecuaristas, de que a carne dos Pampas é a melhor carne bovina do mundo, de bois criados nos pastos, sem raçao", disse. Segundo ele, contudo, nem sempre o importador está interessado na "melhor carne do mundo". "A Argentina já possui o certificado de área livre de aftosa sem vacinaçao e nao exporta quase nada para os EUA porque nao sabem vender seu produto", disse ele.

O analista Victor Nehmi explica que o enfoque de comercializaçao adotado por Argentina e Uruguai nao leva em conta a demanda do importador e nem que cada mercado tem características específicas e diferenciadas. "Infelizmente, os Estados do Sul estao adotando a mesma política de comercializaçao da Argentina e Uruguai, o que é um erro", disse.

Para conseguir entrar em mercados tao diferentes como os Estados Unidos, o Japao e a Europa, o primeiro passo seria o enquadramento do produto a ser ofertado dentro da demanda do comprador. "O mercado japonês prioriza, por exemplo, a carne de vaca gorda, com cerca de 3 miligramas de gordura a mais do que o normal", disse. Segundo o analista, os japoneses nao estao interessados na origem do boi, se foi criado no pasto ou em confinamento, apenas no volume maior de gordura e no paladar mais acentuado da carne de vaca. Segundo ele, nao adianta o exportador argentino chegar no comprador japonês e dizer que sua carne é a melhor do mundo se ele nao oferecer carne de vaca e gorda. "Os norte-americanos, por outro lado, procuram carne macia, o "baby beef" e carne para hambúrguer.

O analista acredita que os exportadores do Circuito Pecuário Centro-Oeste tem mais chances de ganhar o mercado norte-americano que os estados do Sul se continuarem baseando sua estratégia de exportaçao no exemplo argentino. Quando Nehmi diz "ganhar" o mercado norte-americano ele nao está falando no curto prazo, como anuncia o governo brasileiro, mas em uma data em torno de 2003. "Hoje os Estados Unidos sao praticamente auto-suficientes na produçao de carne mas o país está, ultimamente, realizando mais abates que o número de bois colocados em produçao criando um déficit anual que está crescendo e a expectativa é de que haverá necessidade de importar carne, especialmente para a produçao de hambúrguer, a partir de 2003.

"Hoje, os Estados Unidos já importam 600 mil toneladas de carne para hambúrguer da Austrália e a partir de 2003 precisará importar mais 100 mil toneladas, que poderá vir do Brasil Central", disse. Segundo ele, a carne para hamburguer é feita de ponta de agulha e dianteiro, partes menos nobres do boi. "Portanto, este é um nicho que oferecer a 'melhor carne do mundo' nao faz a mínima diferença. O que os EUA querem é a carne de hambúrguer", disse. Para Nehmi, esta exportaçao de carne para hambúrguer para os EUA nao atrapalharia as exportaçoes para a Europa e para o Oriente Médio, que compram principalmente traseiro, peça considerada mais nobre. Para o Brasil conseguir entrar no mercado norte-americano, além do problema das cotas que depende do comércio bilateral entre Brasil/EUA, o analista disse que os frigoríficos precisam investir em parques de produçao de hambúrguer. "Hoje poucos frig oríficos possuem capacidade para produzir hambúrgueres", disse. Nehmi lembra que com a expansao de fast-foods como o MacDonalds ao redor do mundo a demanda por hambúrguer tende a crescer.




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