O perfume das essências de narguilé exala pelas ruas de Granada, que encanta pela atmosfera das histórias de mil e uma noites. As músicas que vêm das lojas remetem à dança do ventre. Souvenires e roupas à venda têm alma árabe. Nas casas de chá, o aroma das bebidas, feitas com flores e frutas, e doces à base de folhados e mel. Em muitos momentos, circular por Granada, na Espanha, confunde. "Será que estou em uma cidade árabe?"

Capital da província andaluza de Granada, a cidade de 260 mil habitantes fica aos pés da Serra Nevada e tem entre seus tesouros palácios árabes e construções do renascimento. Talvez a influência árabe seja tão forte até hoje porque Granada foi o último ponto de resistência moura na Península Ibérica. Muçulmanos instalaram-se por lá no século 8. Com a dinastia nazarita, a cidade ganhou importância, a partir do século 9. Após 20 reis, Boabdil, o Pequeno, teve de entregar Granada aos Reis Católicos, em 1492.

COM SANGUE ÁRABE - "Dá-lhe uma esmola, mulher / que não há na vida nada / como a desgraça de ser / cego em Granada". Os versos do poeta mexicano Francisco Asís de Icaza que estão na Torre da Polvorosa, em Alhambra, ganham veracidade quando se visita o complexo. Fruto da rica cultura islâmica, Alhambra é patrimônio cultural da humanidade, declarado pela Unesco, e um dos monumentos mais visitados do mundo, por 3 milhões de pessoas por ano.

De vários pontos da cidade avista-se Alhambra, construído como fortaleza militar no topo da montanha La Sabika. Paisagem tradicional, transformou-se em residência dos nobres no século 13.

Reserve o dia todo para visitar Alhambra, composto por palácios, torres, jardins e espelhos d'água. O principal é o Palácio Nazaríes, cuja beleza emociona até os mais insensíveis. Não se admire se alguma lágrima escorrer. Em seu interior, o Pátio dos Leões, do século 14, verdadeira joia árabe: são 142 colunas de mármore branco com arcos cujos trabalhos em gesso lembram rendas. O Pátio de los Arrayanes tem bela piscina e jardins atravessando seu interior. A cúpula da Sala de los Dos Hermanos lembra estalactites iluminadas por raios de sol.

Residência de verão dos reis nazaritas, o Generalife é rodeado por jardins e fontes. Em uma tarde ensolarada, o lugar certo para deixar o tempo passar e agradecer pelo privilégio de estar ali.

A obra mais antiga do complexo é Alcazaba, o quartel da guarda real, que abriga torres como a de la Vela, a mais alta de Alhambra. Vale subir para ter a visão inesquecível do complexo e da cidade. O Palácio Carlos V tem estilo renascentista.

Ingressos para Alhambra devem ser comprados com antecedência pela internet (www.alhambra-patronato.es) porque a visita ao Nazaríes tem hora marcada e número limitado de turistas.

No bairro árabe Albaicín, antiga cidade medieval muçulmana, é difícil acreditar que se está na Espanha. Produtos das arábias são oferecidos em lojas e confeitarias. O idioma é ouvido tanto, ou mais, do que o espanhol. Túnicas até os pés e turbantes são moda nas ruas. Na área encontram-se o El Bañuelo, banhos árabes do século 11, além de igrejas, conventos, restaurantes, casas de chá e as típicas residências brancas com jardins internos escondidos por muros altos.

Da Plaza San Nicolas, com sua igreja branca, tem-se vista clássica de Alhambra. Moradores e turistas sentam-se nos bancos, muretas e no chão para admirar o complexo sobre a montanha em frente.

O OUTRO LADO - Obras com influência renascentista são a outra face de Granada. Entre elas, a catedral, com seu belo museu da sacristia, e o Mosteiro de San Jerônimo, do século 16. O Mosteiro de La Cartuja é o maior monumento barroco da cidade.

Curiosos sobre comportamento e formas inusitadas de moradia podem conferir casas de ciganos, cavadas nas montanhas, no bairro Sacromonte.