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Buracos de mais de 40 m assustam Goiás
Do Diário do Grande ABC
03/01/1999 | 19:13
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Surgem de uma hora para outra e geralmente à noite, na regiao rural de Uruaçu e Niquelândia, no norte de Goiás. Tecnicamente, sao chamados de dolinas e se produzem em razao do terreno calcário e da infiltraçao subterrânea de água. Sao buracos de 40 a 50 metros de diâmetro e cerca de 20 metros de profundidade que aparecem de repente e se multiplicam na regiao - a mesma onde a exploraçao de amianto já deixou abertas duas crateras de três quilômetros e parte da populaçao de uma cidade (Minaçu) doente. Já os buracos de Uruaçu e Niquelândia engolem árvores e animais, além de ameaçar casas e escolas.

"Já mataram seis vacas aqui na fazenda. Nao dá mais para contar o número de buracos que apareceram por aqui. Eram uns 15 até o início do mês", conta o peao Eustáquio Vieira, da Fazenda Titara, em Uruaçu. Dos buracos da Fazenda Titara, três deles estao a menos de 500 metros da sede, cujas paredes estao trincadas, bem como as do galpao de equipamentos. As terras em torno estao rachadas. A escola rural, localizada no limite da propriedade, foi desativada pela Prefeitura de Uruaçu. O medo tomou conta da regiao, que há mais de um ano mandou para longe dali todas as suas crianças.

"Nao dá para confiar nisso aqui nao. As crianças foram para a cidade. Aqui é perigoso", diz a posseira Teresa Pereira da Silva. "É um negócio esquisito. Eles estao abrindo à noite. A gente passa à tarde e nao tem nada. Chega de manha, tá lá o buracao", relata o peao Eustáquio.

Irmao de Eustáquio, o mecânico Orstivânio Vieira diz que quase toda noite sonha que um buraco está engolindo a casa, com ele dentro. Ele acorda tremendo e só sossega depois de tomar café. Mesmo assim, como todos os outros trabalhadores da fazenda e os vizinhos, Orstivânio nao sai de casa sem se benzer. E ninguém na regiao galopa mais com seus cavalos. Todos andam devagar, procurando novos buracos, temendo a noite seguinte.

As dolinas da regiao, segundo o ambientalista Ricardo Mesquita, surgiram e se multiplicaram depois do enchimento do lago da barragem da hidrelétrica Serra da Mesa. Sao 1.784 quilômetros quadrados de área inundada. As terras da regiao sao, de acordo com Mesquita, geologicamente delicadas, já que sua formaçao é de quartzitos e rochas calcárias. A infiltraçao da água é inexorável, afirma o ambientalista, e só vai parar se a cota do lago for rebaixada. Furnas, a empresa que fez a barragem e administra a hidrelétrica, afirma que esta alternativa inviabilizaria a usina de Serra da Mesa.

O presidente da Fundaçao de Meio Ambiente de Goiás (Femago), Clarismino Júnior, diz que os efeitos sobre o meio ambiente serao sentidos aos poucos. Os buracos - abertos pela infiltraçao, segundo Clarismino - foram constatados pela Femago e receberam um laudo técnico da UnB. Furnas garante que os buracos de Uruaçu e Niquelândia nao sao responsabilidade sua. Um estudo produzido por técnicos da empresa afirma que as dolinas já existiam na regiao antes da barragem e que as mais recentes sao resultados de chuvas intensas que caíram na regiao em 1997. Mas os moradores nao conheciam o fenômeno antes do enchimento do lago.




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