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Exposição mostra progresso de outros tempos
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
20/01/2003 | 18:13
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Duas revoluções têm estreitas ligações com a exposição que o Instituto Moreira Salles abre para o público na próxima sexta-feira (dia 24), em São Paulo. Uma é a Revolução Industrial na Europa e América do Norte, que acelerou o processo de industrialização e o desenvolvimento das grandes cidades durante o século XIX. Na virada para o século XX, São Paulo, que crescia em função dos lucros da cafeicultura, e Rio, metrópole e capital da República, passaram por mudanças em suas estruturas urbanas. Aqui entra a outra revolução, a fotografia. Desenvolvida no século XIX, foi usada por dois renomados fotógrafos para documentar Rio e São Paulo na efervescência fin-de-siécle: Guilherme Gaensly (1843-1928), suíço que retratou a capital paulista, e Augusto Malta (1864-1957), alagoano que registrou a capital da República.   

As transformações nas paisagens urbanas das duas metrópoles entre 1899 e 1921 são o tema da exposição Guilherme Gaensly e Augusto Malta: Dois Mestres da Fotografia Brasileira no Acervo Brascan – 100 Anos no Brasil. Até 6 de abril, cerca de 50 imagens destes fotógrafos estarão à disposição do público para visitas com entrada franca no Instituto Moreira Salles (r. Piauí, 844, 1º andar, Higienópolis, São Paulo. Tel.: 3825-2560). Uma versão menor da mostra, com 18 painéis, estará no hall das salas de cinema do Unibanco Arteplex de sexta-feira até 20 de fevereiro (Frei Caneca Shopping – r. Frei Caneca, 569, 3º piso).   

O Grupo Brascan doou ao Instituto seu acervo de 16 mil imagens feitas entre 1899 e 1999 para documentar as atividades da empresa no Brasil. Gaensly foi contratado em 1900 pela empresa canadense The São Paulo Railway, Light and Power para registrar na capital paulista as obras de engenharia e implantação de serviços de energia elétrica, como trilhos de bondes e iluminação pública. Constituída em 1899, em Toronto, instalou-se em São Paulo no ano seguinte, e, no Rio, em 1904. Naquele ano, Malta foi contratado pela mesma empresa, lá chamada The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company Ltda.. Ambas se tornariam a Light em 1958 e depois, Brascan. Seguindo a política de contratar os melhores profissionais – Rui Barbosa respondia como advogado da empresa –, os dois eram o que se pode chamar de papas do ofício.  

Divisor de águas – Ambos foram importantes para a história da fotografia documental brasileira. Malta introduziu o uso da fotografia em reportagens ilustradas a partir de 1910 e fez um amplo registro da paisagem carioca e das obras de modernização da cidade implantadas pelo prefeito Francisco Pereira Passos (1902-1906). Até a primeira década do século XX, a fotografia era usada no Brasil com fins comerciais – venda de postais, fotos de família etc. Gaensly foi além do registro técnico. Seu apurado senso estético foi o divisor de águas na fotografia brasileira em seu momento, influenciando outros fotógrafos, como Malta.   

As fotografias de Gaensly e Malta foram feitas em negativos de vidro, com chapas no formato 24cm x 30cm. Possuem um rigor artístico próximo das vanguardas do fim de século, o impressionismo entre elas. Mostram metrópoles que se tornaram modernas em seu tempo e revelam endereços que rivalizariam com similares do primeiro mundo, se não terminassem desprezados pelo progresso sem salvaguardas estéticas dos anos seguintes.




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