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Pesquisa sobre malária do Oswaldo Cruz é premiada
Do Diário do Grande ABC
23/06/1999 | 15:46
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O pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Cláudio Tadeu Daniel Ribeiro, recebeu nesta terça, o Prêmio Sendas de Saúde, por suas pesquisas com malária, doença provocada por parasitas e transmitida por mosquitos. O prêmio é uma dupla exceçao no contexto da produçao científica brasileira. Primeiro, porque é um incentivo à pesquisa que parte da iniciativa privada para premiar pesquisadores sem relaçao direta com o ramo de atividade da empresa promotora, os Supermercados Sendas. Segundo, porque o tema escolhido neste biênio - a malária - é uma doença de populaçoes anônimas, geralmente de classe baixa, em 99% dos casos provenientes da regiao amazônica.

Ribeiro cita diversas estatísticas, apontando para incoerências na distribuiçao de recursos para a pesquisa, no setor de saúde. Segundo ele, no mundo há de 300 a 500 milhoes de casos de malária, com 2 a 3 milhoes de mortos por ano, sendo 1 milhao só de crianças abaixo de 5 anos, sobretudo na Africa. No Brasil, sao cerca de 400 mil casos de malária reportados, com 5 a 10 mil mortos por ano. Apesar de tais números, os recursos disponíveis para a pesquisa sobre vacinas e tratamentos contra a malária sao 100 vezes inferiores aos gastos com a aids. "E a Aids atinge, no Brasil, cerca de 1.400 pessoas por ano, de 3 a 7 vezes menos do que o número de mortos pela malária", observa o pesquisador.

Mesmo com recursos limitados - aproximadamente R$ 80 mil por ano - Cláudio Ribeiro vem obtendo resultados importantes na busca de imunizaçao contra a malária. Ele trabalha em duas frentes, com outros dois pesquisadores, dois pós-graduandos e dois técnicos, "mais a colaboraçao inestimável dos centros de primatologia de Belém e da Fundaçao Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro". A primeira frente é a busca da melhor combinaçao de antígeno com substâncias adjuvantes. A segunda é o estudo do sistema imunológico de duas espécies de macacos, mais resistentes à malária.

O que o pesquisador pretende é conseguir uma alternativa de vacina contra a malária. Como a doença é provocada por quatro espécies diferentes de parasitas unicelulares, do gênero Plasmodium, mais complexos do que muitos vírus, a fabricaçao de vacinas pelos métodos usuais ainda nao deu certo. Agora, laboratórios de diversos países, sob coordenaçao da França e Dinamarca, trabalham com DNA recombinante, isto é, proteínas do parasita transferidas para bactérias. Estas bactérias modificadas fariam o papel do antígeno, ou seja, o corpo estranho que vai provocar uma reaçao imunizante do organismo. Tais proteínas, porém, sao muito pequenas e, por isso, seu efeito precisa ser potencializado por substâncias a elas adicionadas, as substâncias adjuvantes.

A equipe do IOC trabalhou sobre algumas dessas combinaçoes e já obteve bons resultados em modelos animais pequenos, como camundongos. Agora estao fazendo testes com duas espécies de primatas: macaco-de-cheiro e macaco-da-noite. As mesmas espécies de macacos da Amazônia estao sendo estudadas pela equipe de Cláudio Ribeiro, na segunda frente de trabalho. "Embora nao tenham um sistema imunológico idêntico aos dos humanos, há muitas semelhanças e estes dois primatas, em especial, apresentam facilidade em se imunizar contra a malária: bastam 2 a 3 infeçoes e eles estao imunes", explica o pesquisador. A forma como adquirem tal imunidade, ele acredita, poderá fornecer pistas para tratamentos e vacinas contra a malária em humanos.

"A pesquisa com a malária e outros parasitas complexos também vem nos obrigando a questionar os fundamentos da imunologia", diz Cláudio Ribeiro. "Sempre consideramos o sistema imunológico como um sistema de defesa do organismo contra invasores externos, mas agora estamos começando a considerá-lo um sistema de auto-reconhecimento". Isso explicaria, segundo o pesquisador, a dificuldade em se conseguir vacinas contra parasitas complexos.

Estes seres têm partes de suas proteínas semelhantes ao organismo do hospedeiro. Ou seja, o sistema imunológico do hospedeiro reconhece as semelhanças e nao sabe como combater o corpo estranho porque seria como atacar o próprio organismo. O dilema dos especialistas é encontrar uma maneira de o sistema imunológico atirar nos antígenos e só passar de raspao pelas proteínas do próprio organismo.




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