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Jornada sobre um cortador de grama vira filme
Patrícia Vilani
Do Diário do Grande ABC
17/01/2002 | 18:45
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  Em 1994, nos Estados Unidos, o aposentado Alvin Straight, 73 anos, comoveu o país ao viajar 700 quilômetros dirigindo um cortador de grama para reencontrar o irmão mais velho, que não via há 10 anos. O diretor David Lynch decidiu retratar essa história sensível no cinema. O resultado é História Real (The Straight Story, EUA, 1999), belíssimo drama que chega nesta sexta ao circuito alternativo paulistano.

O filme rendeu a Richard Farsworth, que cometeu suicídio em outubro de 2000, uma indicação ao Oscar de melhor ator. Ele tinha 79 anos e se tornou o concorrente mais velho ao prêmio da Academia (a estatueta, naquela edição, ficou com Kevin Spacey, por Beleza Americana). No papel de Alvin, ele experimenta uma jornada de paciência que modifica sua vida e também a das pessoas que cruzam seu caminho.

Na pequena comunidade de Laurens, Iowa, Alvin é um viúvo teimoso que vive com a filha, Rose (Sissi Spacek). Gravemente afetado por várias doenças, ele recusa a ajuda do médico. Ao mesmo tempo, recebe a notícia de que o irmão, Lyle, sofreu um derrame. Os dois não se falam há 10 anos, desde que discutiram por um motivo já esquecido. E Alvin decide engolir seu orgulho para fazer as pazes.

Há obstáculos em seu caminho: a falta de dinheiro para viajar até Monte Zion, em Wisconsin, sua visão prejudicada e sua teimosia em não aceitar ser levado por ninguém. Assim ele começa a desenvolver seu plano. Improvisa um trailer, dribla a preocupação de Rose e a curiosidade de seus vizinhos, e o prende ao cortador de grama.

No trajeto, ele encontra personagens variados: uma adolescente grávida que fugiu de casa, um pai de família solidário, um grupo de ciclistas, um padre e um veterano da Segunda Guerra. As conversas com os desconhecidos são sempre incrementadas de confidências e lições de vida de ambas as partes.

História Real é um título incomum na filmografia de Lynch, que já retratou a compaixão em O Homem Elefante e a obscuridade dos relacionamentos em Veludo Azul. É um road movie lento, levado por uma história inspiradora, que conquista uma estranha atração do público justamente por ser simples. Daí se tira a certeza de que as grandes coisas são feitas de muitas pequenas coisas.




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