Economia Titulo Retração
Crédito cai após três anos de alta

Setor produtivo tem forte contribuição para
recuo em janeiro, aponta Banco Central

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
29/02/2012 | 07:21
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O País já assistiu fato parecido com o ocorrido no mês passado. O saldo total de crédito do SFN (Sistema Financeiro Nacional) caiu 0,2% em janeiro na comparação mensal, com R$ 2,027 trilhões. Em dezembro, os bancos, financeiras e cooperativas de crédito tinham emprestado R$ 2,029 trilhões. Este é o primeiro recuo desde fevereiro de 2009, cinco meses após o início da crise financeira, quando retraiu 0,02%.

O BC (Banco Central) publicou as informações dos empréstimos nacionais ontem por meio da Nota de Política Monetária e Operações de Crédito do SFN. E atribuiu às indústrias, fábricas e agricultores, parte da responsabilidade da queda. "A evolução do crédito, em janeiro, refletiu, principalmente, aspectos sazonais, evidenciados, sobretudo, pelo arrefecimento da demanda por parte do setor produtivo." O saldo para empresas diminuiu 1,2%.

Segundo o economista da FIA e diretor presidente da consultoria de negócios Fractal, Celso Grisi, o decréscimo do saldo de crédito do SFN está relacionado a vários fatores interligados à demanda e à oferta de empréstimos. "Os bancos estão mais seletivos. Estão retraídos com o cenário internacional", pontuou. Ele disse ainda que as instituições temem elevação da inadimplência e o resultado desse cenário é a oferta restrita.

Quem sofre com isso são as pequenas e médias empresas que demandam empréstimo, principalmente para recuperar os resultados mornos do fim de 2011, analisa Grisi. "Elas vão de encontro com um sistema financeiro retraído, portanto essas companhias não conseguem o crédito", disse.

Pelo lado da demanda, o especialista analisou que as grandes empresas, que oferecem bem menos risco para os bancos, adiaram seus projetos de investimentos e, consequentemente, contrataram bem menos crédito. Com exceção do setor de infraestrutura, que está aquecido pela proximidade da Copa do Mundo de Futebol no Brasil.

As famílias elevaram em 1,6% a demanda por crédito em janeiro, o que não foi suficiente para segurar o recuo no total. Grisi avaliou que o consumidor está endividado e evitando empréstimos. Já o professor de Finanças da Universidade Municipal de São Caetano, Fundação Getulio Vargas e Trevisan Escola de Negócios, José Ricardo Escolá de Araújo, considera que as famílias estão mais conscientes.

 

Operações para compra de carros sobem 22%

A demanda das famílias por financiamentos de veículos subiu 22% em janeiro, informou o Banco Central. A carteira das instituições financeiras atingiu o maior volume histórico, R$ 174,6 bilhões, contra R$ 142,9 bilhões no primeiro mês de 2011. Esse resultado está emparelhado com a alta de 9,81%, na comparação anual, nas vendas de automóveis e veículos comerciais leves em janeiro, segundo dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores).

No entanto, em relação a dezembro, o mês passado apresentou avanço de apenas 0,8% no volume emprestado para aquisição de veículos. E em concessões houve recuo de 17,9%, tendo em vista que os consumidores contrataram R$ 9,4 bilhões com esta finalidade no último mês de 2011 e R$ 7,7 bilhões em janeiro.

Os financiamentos de veículos, de outros bens por meio do CDC (Crédito Direto ao Consumidor), cujo volume contratado caiu 18,7%, e os financiamentos imobiliários (-20,2%) são os únicos com resultado negativo em janeiro. O cheque especial subiu 0,4%, com R$ 26,1 bilhões, o crédito pessoal elevou 3,2%, com R$ 14,6 bilhões, e o cartão de crédito expandiu 5,8%, com R$ 23,5 bilhões.

 

Famílias atingem maior inadimplência em dois anos

Um dos principais fatores que os bancos consideram para precificar o crédito atingiu o maior patamar dos últimos dois anos. A inadimplência dos consumidores com o SFN (Sistema Financeiro Nacional) ficou em 7,55% em janeiro, maior resultado desde dezembro de 2009, quando o registro foi de 7,71%.

Em relação a dezembro, a inadimplência teve expansão de 0,2 ponto percentual. E sobre o primeiro mês de 2011, a alta atingiu 1,83 ponto percentual.

Os contratantes de crédito são considerados inadimplentes quando deixam de pagar as suas dívidas. Mas é necessário que esse atraso supere 90 dias do vencimento da parcela do empréstimo.

O percentual é calculado sobre o montante de crédito emprestado pelos 13 maiores bancos que liberam crédito com recursos livres para as famílias. Esse dinheiro é aquele cujo preço (juros) é facultativo às instituições financeiras e não há vínculos com programas ou projetos sociais e governamentais.




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