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Orgulho e Preconceito abusa da reconstituição histórica
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
10/02/2006 | 09:03
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A época é de Oscar, então é hora de desovar no circuito os filmes que concorrem às mais cobiçadas estatuetas da indústria cinematográfica. É o caso deste Orgulho e Preconceito, outra adaptação de romance da britânica Jane Austen (1775-1817), escritora que, embora tenha redigido apenas seis obras em toda a vida, virou a fonte de juventude para os dramas de época hollywoodianos reencontrarem-se com seu público. Recentemente, Jane foi revisitada em versões de Razão e Sensibilidade – a destacar a de Ang Lee – e de Emma. Esta de Orgulho e Preconceito comete pecado grave na transformação da letra em película: sustentar-se em demasiado na reconstituição histórica como fator determinante; não fortuitamente, das indicações que o filme granjeou no Oscar duas vêm desse esforço na réplica cenográfica: direção de arte e figurino.

As categorias restantes são trilha sonora e atriz principal. Aqui são outros quinhentos. Keira Knightley concorre na modalidade pela interpretação que dá a Elizabeth, uma das cinco filhas do casal Bennett, família que é a mais completa tradução da burguesia britânica no século XIX, ou seja, que enriqueceu no comércio sem o tal lastro sangüíneo que caracteriza a nobreza. Keira, que o espectador já divisou (e como!) como a mocinha de Piratas do Caribe, imprime uma leveza singular ao papel, moça ao mesmo tempo terna e de opiniões fortes, uma espécie de feminista-cidadã em meio a um ambiente em que casar para salvar as finanças da família ou para ficar bem na fita da sociedade era a prática mais comum do mundo.

É Keira a verdadeira alma deste Orgulho e Preconceito dirigido por Joe Wright, estreante em longas-metragens que faz do filme uma experiência materialista demais, em que a essência dos modos e dos cenários da época em questão conduzem as demais interpretações. Na busca excessiva pelo naturalismo de cento e poucos anos atrás, sobram interpretações que não fogem ao programa acadêmico, uma leitura excessivamente plana da partitura. E, como sabe quem já folheou Jane Austen, personagem é tudo em sua dramaturgia.

Keira sobeja quando sua personagem se apaixona pelo aristocrata Darcy (Matthew Macfayden), que a ignora à sombra de sua educação que recomenda o esnobismo; e ainda mais quando Elizabeth lhe passa descomposturas no momento em que o mesmo descobre-se interessado pela moça destituída de sangue azul. Não seria exagero algum dizer que o filme é de Keira, e não de Joe Wright, cujo intuito parece ser o de procurar Bridget Jones entre carroças e palácios. Cá entre nós, Jane Austen está um bocado acima disso.

ORGULHO E PRECONCEITO (Pride and Prejudice, França/ Inglaterra, 2005). Dir.: Joe Wright. Com Keira Knightley, Talulah Riley, Rosamund Pike, Jena Malone, Carey Mulligan, Donald Sutherland, Brenda Blethyn. Estréia nesta sexta no ABC Plaza 4, Central Plaza 1 e circuito. Duração: 127 minutos. Censura livre.




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