Economia Titulo Acordo coletivo
Mercedes reabre PDV e quer atingir 1.400 trabalhadores

Montadora atende pleito de funcionários e oferece
valor fixo de R$ 100 mil; fábrica voltará a funcionar

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
25/08/2016 | 07:24
Compartilhar notícia
André Henriques/DGABC


Após mais de uma semana de mobilizações, a Mercedes-Benz decidiu atender o pleito dos trabalhadores e reabrir o PDV (Programa de Demissão Voluntária) na fábrica de São Bernardo. Será oferecido valor fixo de R$ 100 mil, independentemente do tempo de casa e da idade do colaborador. Geralmente, esse tipo de plano tem regras que remuneram mais os profissionais que estão há mais tempo na empresa, e que recebem salários maiores.

Diante do cenário de dificuldades econômicas e excedente de funcionários, os operários pediram na segunda-feira, por meio do Sindicato dos Metalúrgicos dos ABC, que a montadora então reabrisse PDV, mas com retorno financeiro mais atrativo. No último plano, encerrado em julho, ela oferecia valor máximo de R$ 85 mil.

O objetivo da Mercedes, com este novo programa de desligamento voluntário, é atingir 1.400 trabalhadores. “Assim, poderemos combater a ociosidade permanente, que está acima de 50% nos últimos dois anos, e manter as operações enquanto não ocorre a recuperação do mercado brasileiro”, diz a montadora, em nota. O prazo de adesão tem duração de uma semana, começando hoje e se estendendo até o dia 31.

“Trata-se de acordo que foi possível chegar num momento de crise pesada. Claro que o melhor seria que conseguíssemos solucionar sem demitir, mas a montadora ainda alega problemas, e não acreditamos que o mercado deva se recuperar ainda neste ano”, afirma Moisés Selerges, diretor do sindicato. “Dessa forma, acreditamos que a proposta seja atraente também para aqueles que têm pouco tempo de casa, que é a maioria dos trabalhadores, e não só para quem está perto de se aposentar ou é muito jovem, e não quer seguir no chão de fábrica.”

Quem, por exemplo, conseguir deixar investido na poupança os R$ 100 mil, e utilizar apenas a rescisão do contrato de trabalho e o seguro desemprego para se manter até conseguir nova ocupação, e um ano conseguirá rentabilizar cerca de R$ 7.000, considerando que a caderneta corrige em 0,5% ao mês mais a TR (Taxa Referencial), que varia diariamente.

PARA QUEM FICA - Cumprida a meta inicial do PDV, haverá estabilidade aos funcionários que permanecerem na companhia até 31 de dezembro de 2017. Adicionalmente, ficou acordado entre o sindicato e a Mercedes que serão adotadas novas medidas para administrar o excedente que ainda permanecerá na unidade.

A montadora reconhece que tinha 2.500 funcionários sem ocupação, devido à queda de 23,3% nas vendas de caminhões e de 27,7% nas de ônibus de janeiro a julho deste ano, na comparação com igual período do ano passado, conforme dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).

Porém, mesmo com a adesão de 630 empregados ao último PDV aberto, ainda restavam 1.870. Se os 1.400 pretendidos se desligarem voluntariamente com este novo programa, restarão ainda 470 operários excedentes.

“Esse volume de pessoas pode variar conforme o andamento da economia e das vendas da montadora. Além do saldo de adesão ao PDV. Mas está previsto lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho) em três etapas, sendo que um grupo de trabalhadores fica afastado por cinco meses e, se a situação ainda estiver complicada, eles retornam à empresa, e novo conjunto de empregados sai, por mais cinco meses. O que acontece também com terceiro grupo caso seja necessário”, explica Selerges.

Tópico que desagradou aos funcionários foi que não haverá a reposição do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) de 2016 nos salários do próximo ano. Será pago, em maio, abono de R$ 4.000 no lugar da correção. “Isso é um absurdo. É inaceitável ficar sem repor a inflação. E em troca de nada, ou seja, de uma demissão negociada. Estamos revoltados”, desabafa um dos operários.

RETORNO - A fábrica da região volta a funcionar hoje, depois de dez dias paralisada. Desde o dia 15, os cerca de 9.000 funcionários estavam em licença remunerada. Segundo comunicado interno ao qual o Diário teve acesso, “o retorno não se aplica aos colaboradores que receberam telegrama sobre o encerramento de seus contratos, que embora suspenso temporariamente, devem permanecer em licença remunerada”.

Os operários que receberam telegramas com o aviso de demissão queimaram as correspondências na sexta-feira, enquanto o ministro do Trabalho e Emprego, Ronaldo Nogueira, estava na sede do sindicato, em São Bernardo. Ele indicou a possibilidade de aumentar a contrapartida do governo no PPE (Programa de Proteção ao Emprego).  

Na segunda, a entidade entregou ao vice-governador do Estado de São Paulo, Márcio França, proposta de incentivo envolvendo o ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) para empresas do setor automotivo que se comprometerem a não demitir.  




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;