As mais de 20 mil pessoas que compareceram nesta quarta ao enterro do ciclista italiano Marco Pantani – encontrado morto no último sábado –, em Cesenático (sua terra natal), se emocionaram com a leitura de um texto deixado pelo atleta. Em nove páginas escritas em seu passaporte, o campeão da Volta da França de 1998 falou da humilhação que sofreu ao ser acusado de doping no ano seguinte sem que nada fosse provado.

A carta foi encontrada e lida pela ex-empresária de Pantani, Manuela Ronchi, e num de seus trechos mais emocionantes traz o desabafo do ciclista. “Fui humilhado por nada. Durante quatro anos, estive em todos os tribunais. Perdi toda a vontade de ser como o resto dos esportistas. O ciclismo pagou por isso e muitos jovens perderam a esperança na Justiça”, escreveu.

No texto, o ciclista – que entrou em depressão após ter sido afastado da Volta da França, acusado de doping – fala também em discriminação”. “A vitória é o grande objetivo de um esportista, mas o mais difícil é saber ter dado o coração para um esporte. Tive acidentes, lesões, mas sempre recomecei. Disto, só resta tristeza e raiva por uma Justiça que não acreditava em mim. Espero que minha história sirva de exemplo a outros esportes, em que devem existir regras, porém, para todos”.

No texto, o ciclista morto se queixa também do preconceito com que os ciclistas passaram a ser tratados. “O mundo entende que muitos companheiros meus foram humilhados em quartos de hotéis na frente de várias câmeras. Foi uma tentativa de arruinar muitas famílias”.

Pó branco – Na investigação da morte de Pantani, os policiais encontraram restos de um pó branco em sua casa, em Rimini, mas não concluíram do que se trata em função da pouca quantidade. Eles trabalham com a possibilidade de ser remédios ou pastilhas trituradas ou cocaína. O resultado só será obtido após o exame de perícia toxicológica, química e microscópica.