O empresário Luiz Augusto Bragança, irmao de Sérgio Bragança - que diz ter sob sua custódia US$ 1 675 milhao de Francisco Lopes - tentou intermediar uma negociaçao entre o dono do banco Marka, Salvatore Cacciola, e o ex-presidente do Banco Central. A revelaçao foi feita pelo próprio Cacciola, em seu depoimento à Comissao de Sindicância do Banco Central (BC). De acordo com o mesmo relato, às oito horas do dia 14 de janeiro Luiz Bragança foi à residência de Lopes em Brasília para falar com ele sobre "a situaçao aflitiva do Banco Marka", mas o ex-presidente teria afirmado "nao vislumbrar uma soluçao para o caso".

Salvatore Cacciola fez um relato detalhado dos dias que permaneceu em Brasília negociando com o Banco Central. Informou que, "diante da angústia em que se encontrava" e "necessitando de algum tipo de apoio ou assessoria", telefonou ainda no Rio de Janeiro para o economista Rubens Novaes e para Luiz Augusto Bragança para que estes o acompanhassem em sua viagem a Brasília. "Até porque sabia que Luiz Bragança mantinha relaçoes pessoais de amizade com Francisco Lopes, seriam amigos de infância, e isso poderia ser útil no desenrolar das negociaçoes", disse o banqueiro à Comissao Sindicância do BC, que apura a denúncia de vazamento de informaçoes antes da mudança da política cambial.

O relato de Cacciola informa que Rubens Novaes passou na casa de Luiz Bragança e foram juntos ao aeroporto Santos Dumont, para a sala da Líder Taxi Aéreo. Durante a viagem, em aviao fretado pelo banqueiro, os três vieram "discutindo alternativas para a situaçao aflitiva em que se encontrava o Banco Marka". Ao chegarem a Brasília, Rubens Novaes e Luiz Bragança permaneceram no aeroporto, na sala da Líder, enquanto Cacciola foi sozinho à sede do BC. Mais tarde, o banqueiro telefonou para a sala da Líder e disse a Rubens Novaes que poderia retornar ao Rio no mesmo jato fretado.

Luiz Bragança permaneceu em Brasília e, junto com Cacciola, ficou hospedado no hotel St. Paul. Do quarto do hotel, Bragança tentou ligar para a residência de Francisco Lopes, mas nao conseguiu, de acordo com o relato do banqueiro. No dia 14 de janeiro, às oito horas da manha, Luiz Bragança teria ido à residência de Lopes e feito uma exposiçao da situaçao do Banco Marka. Lopes teria dito a Bragança, segundo Cacciola, que "nao vislumbrava" uma soluçao para o caso. Bragança só voltou ao Rio no dia 15. O dono do Marka disse que nao remunerou Luiz Bragança e nem Rubens Novaes, "até porque entende que nao houve prestaçao de nenhum serviço".

Salvatore Cacciola informou à Comissao de Sindicância que nao falou com nenhum diretor do Banco Central. Disse que tentou falar, no dia 13 de janeiro, com o ex-presidente do BC, mas nao conseguiu. Foi recebido pelo consultor da diretoria de Polícia Monetária Alexandre Pundek, que o encaminhou ao Departamento de Fiscalizaçao. Lá, Cacciola manteve conversaçoes com a"sra. Tereza" e com o "sr. Aguiar". No dia 19 de janeiro, Cacciola voltou a conversar com Pundek, Aguiar e com o chefe do Departamento de Fiscalizaçao, Luiz Carlos Alvarez.

O dono do banco Marka disse que, nas conversas que manteve no Banco Central, destacou como prioritária "a questao envolvendo o Inovation Fund junto ao Banco Stock Máxima". Esclareceu que o único investidor desse fundo era o Marka Bank, sediado nas Bahamas, e 100% controlado pelo próprio Banco Marka. Disse que os recursos do Inovation Fund estavam aplicados em 2.600 contratos de dólar futuro na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BMF) e que desejava zerar essa posiçao para nao causar problemas de liquidez ao Marka Bank no exterior, mediante uma operaçao direta entre o Banco Marka e o Banco Stock Máxima.

Em seu depoimento, Cacciola disse que podia fazer a operaçao diretamente, sem consultar o Banco Central, mas que "julgou ser melhor" expor o problema ao BC e dar conhecimento prévio da sua realizaçao.

Informou que essa operaçao direta de transferência do Inovation Fund do Stock Máxima para o Marka foi feita no dia 13 de janeiro. Segundo Cacciola, essa operaçao permitiu a liquidaçao de todos os passivos do Marka Bank, dentre os quais se incluem passivos na bolsa de Chicago e todos os outros passivos de clientes, dentre os quais, o maior deles, a sociedade Aguas Claras, que era também 100% controlada pelo Banco Marka.

O Banco Central, porém, informou, no dia em que o presidente da instituiçao, Armínio Fraga, depôs na CPI dos Bancos, que quando Cacciola chegou lá para negociar uma soluçao para o problema, o Inovation Fund já tinha sido transferido do Stock Máxima para o Banco Marka. E que foi por isso que esse fundo terminou beneficiado no acerto geral.

Cacciola garantiu que nao possuía nenhuma aplicaçao pessoal no Inovation Fund e que os recursos recebidos pela Aguas Claras retornaram integralmente ao Banco Marka, no Brasil, por meio de remessas de dividendos e resgates de Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), no valor total aproximado de R$ 29 milhoes.

A explicaçao de Cacciola para o fato de os fundos da Marka-Nikko Asset Management terem sido excluídos da ajuda financeira do BC no dia 14 de janeiro, que vendeu dólares ao Banco Marka por R$ 1,275, foi que o Banco Central considerou que os fundos nao representavam risco sistêmico para o mercado, pois teriam condiçoes, naquele momento, de suportar o preço máximo da banda cambial de R$ 1,32.

Essa versao de Cacciola apresentada ao BC é a mesma que consta do seu relatório encaminhado à CPI dos Bancos. Mas, em seu depoimento à Polícia Federal, o ex-diretor de Fiscalizaçao do BC, Cláudio Mauch, deu outra versao. Disse que os fundos Marka-Nikko nao foram incluídos na negociaçao porque Cacciola demonstrou o Banco Marka encontrava-se em situaçao mais difícil.