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20 anos sem Raulzito
Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
21/08/2009 | 07:00
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Ele andou pelos quatro cantos do mundo, debochou do ouro de tolo perseguido pela conservadora classe média da década de 1970, flertou com o ocultismo, fez suas próprias leis e deixou impressa marca inconfundível na história da MPB. Dono desse currículo peculiar, o cantor e compositor baiano Raul Seixas morreu há exatos 20 anos, vítima de pancreatite crônica, em decorrência dos abusos de álcool e drogas.

À época, tinha 44 anos, e deixou legado de irreverência, contestação e qualidade artística que permanece relevante e influente no cenário musical. Prova da perenidade da obra é a quantidade de eventos e produtos lançados para marcar as duas décadas da morte do músico que uniu "a malícia de Elvis Presley e de Luiz Gonzaga" (veja matéria abaixo).

O INÍCIO - O homem que cantou ter nascido "há dez mil anos atrás", na verdade veio ao mundo em 28 de junho de 1945. Desde a infância, demonstrou inclinação para a poesia e a música.

Na adolescência, descobriu o rock, graças à influência de amigos do Consulado dos Estados Unidos em Salvador, cidade onde morava. No fim da década seguinte, tentou a sorte com o grupo Raulzito e seus Panteras, mas não obteve repercussão.

Após o fracasso, trabalhou como produtor de discos na gravadora CBS e colaborou com artistas da Jovem Guarda como Jerry Adriani e Leno. "Quando o conheci, ele era extremamente careta, pontual e superorganizado. Era um executivo mesmo", recorda Marco Mazzola, que produziu discos clássicos do Maluco Beleza, como Krig-Ha-Bandolo e Gita.

Conforme Mazzola, o escritor e letrista Paulo Coelho teve papel fundamental no envolvimento de Raul com as drogas. "Gravamos Ouro de Tolo e ele me apresentou o Paulo, que não quis me dar a mão e apertou apenas os meus dedos. Pensei: ‘Esse cara é estranho'. Depois disso, o Paulo começou a dizer que via disco voador e o ácido era maravilhoso. O Raul embarcou nessa parada".

Apesar dos excessos, Mazzola garante que o cantor sempre cumpria os compromissos no estúdio. "Teve um dia em que chegou carregado e disse que só precisava ser benzido pelo pai de santo que estava com ele. Foi exatamente o que aconteceu".

O Diário tentou contatar o Mago, mas a assessoria do autor informou que ele está "no interior da França, local escolhido para gozar um período de férias, e raramente acessa e-mails".

CURIOSIDADES - Filha de Raul e Kika Seixas, a DJ Vivi, 27 anos, guarda lembranças carinhosas do pai, que morreu quando ela tinha apenas 7 anos. "Gostava do personagem que ele criava chamado Capitão Garfo, que escondia minhas bonecas no congelador. Ele era muito divertido".

Vivi herdou o bom humor e lida bem com inevitáveis cobranças do público. "Adoro quando berram: ‘Toca Raul', e sempre tenho uma carta na manga. Quando eu vou a shows, me vingo e berro também".

O ex-vocalista do Ira!, Nasi, que interpretou o álbum Krig-Ha-Bandolo na edição deste ano da Virada Cultural, em São Paulo, não conheceu o ídolo. Mas faz analogias curiosas entre sua trajetória e a do roqueiro baiano. "Sinto ele tão próximo a mim que parece que a gente tem uma dívida por não ter se conhecido. Me tratei na última clínica de reabilitação em que o Raul esteve. Toquei com o percussionista Dinho Nascimento, com quem ele planejava gravar um disco, pouco antes de morrer. Moro no Butantã, onde ele morou e era conhecido pelo pessoal dos botecos e farmácias", comenta Nasi.

O cantor também participou do show O Baú do Raul, que ganhou registro em CD e DVD. Nasi também se identifica com o cantor Marcelo Nova, que dividiu a autoria do disco A Panela do Diabo, o último da carreira do Maluco Beleza. "Ninguém fala mal dele na minha frente."




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