Seja ao som de axé, frevo ou maracatu, o Carnaval movimenta as cifras do turismo no Nordeste e não deixa nenhum folião de carteirinha ficar parado. Destinos clássicos, como Salvador, Recife e Olinda, mantêm-se no topo do ranking das folias mais cobiçadas. E não é para menos: enquanto Rio e São Paulo atraem as câmeras de TV para os desfiles nos sambódromos, nas capitais nordestinas a farra momesca revela seu lado mais eclético e irreverente.

A começar pela histórica Olinda, famosa pelos tradicionais desfiles de bonecos gigantes, que arrastam milhares de foliões ladeira acima, ladeira abaixo, num dos mais democráticos festejos do País. Lá não há agremiações com fantasias e compassos pré-definidos. Muito menos cordões de isolamento ou arquibancadas onde só se diverte quem paga ingresso. Pelo contrário: lá quem faz a festa é o povo, que esbanja alegria e irreverência em blocos improvisados sem hora para sair às ruas nem tempo para acabar.

As únicas figuras que parecem preocupar-se com os horários são o Homem da Meia-noite, boneco gigante criado em 1932 responsável pela abertura do Carnaval em Olinda, e a Mulher do Meio-dia, que surgiu de uma conversa entre dois carnavalescos que queriam criar uma companheira para tirar o Homem da Meia-noite da solidão.

Muitos foliões levam a sério a brincadeira e capricham nas próprias fantasias, a exemplo do debochado bloco das Virgens do Bairro Novo, composto por homens vestidos de mulher.

Os desfiles de maracatus também são imperdíveis. Destaques para a Cambinda Brasileira, que ocorrerá no polo Nazaré da Mata no dia 5, o Leão Coroado (no mesmo dia) e, na Terça de Carnaval, a partir das 19h, o Clube Carnavalesco Misto Cheguei Tarde. Para encerrar, os foliões do Bacalhau do Batata ganham as ruas na Quarta-feira de Cinzas. A programação completa dos maracatus pode ser conferida no site carnaval.olinda.pe.gov.br.

RECIFE

Outro reduto de Momo em solo pernambucano é Recife, que terá 390 shows em 60 polos de evento. Estima-se que 720 mil turistas ficarão no mínimo uma semana no destino, movimentando cerca de R$ 425 milhões, valor 5% superior ao verificado em 2010.

Na noite da sexta-feira (4), haverá apresentação com grandes vozes femininas brasileiras. Com direção assinada pelo cantor e compositor Lenine, o espetáculo Sob o mesmo céu - Mulheres do Brasil levará ao palco Maria Gadú, Fernanda Takai, Elba Ramalho, Zélia Duncan, Marina Lima, Roberta Sá, Céu, Mariana Aydar, Karina Buhr, Nena Queiroga e Isaar.

O tradicional encontro regido por Naná Vasconcelos, além de 500 batuqueiros de maracatus, também terá uma inovação: a participação de afoxés, caboclinhos e da corte de maracatu trazendo para a festa mais cores e ritmos.

Já no sábado (5), os holofotes voltam-se ao Galo da Madrugada - mais famoso bloco da capital - que promete ganhar as ruas no dia 5 arrastando mais de 1,5 milhão de foliões desde a Travessa do Forte até a Rua do Sol, na Praça da República.

O tema do Galo homenageia os conterrâneos que estão longe, mas não esquecem da animação de sua terra natal. Para isso, o bloco tomou emprestado o título da canção do pernambucano Luiz Bandeira: Voltei, Recife!. "Os que amam o Carnaval daqui querem mesmo, como diz a música, é sentir a embriaguez do frevo, que entra na cabeça, depois toma o corpo e acaba no pé. Assim vai ser no dia 5 de março", aposta o presidente da agremiação, Rômulo Meneses.

Os quatro carros alegóricos que puxarão o desfile deste ano também prestarão homenagem a outros compositores locais, como Antônio Maria, Nelson Ferreira, Matias da Rocha, João Santiago, Capiba, Jota Michiles, Getúlio Cavalcanti, Duda, Zé Menezes, Edgar Moraes e Alírio Moraes.

Com a mudança do percurso, a Rua da Concórdia - ponto de concentração nos outros carnavais - passará a ser palco do nostálgico Galo 1978. A iniciativa visa resgatar as raízes do bloco e funcionará como ponto de encontro daqueles que preferem desfiles à moda antiga, com direito a orquestras de frevo no chão, alegorias de mão e apresentações de clubes tradicionais.

Os desfiles serão realizados no sábado de Zé Pereira (dia 5), das 9h às 17h. Na segunda-feira, haverá o Encontro de Gigantes (entre bonecos de Olinda e o Galo da Madrugada, das 9h às 12h) e desfiles dos blocos do Cacique (14h às 16h) e das Ilusões (17h às 21h). E na terça, passa pela Concórdia o infantil Pinto da Madrugada (das 10h às 13h), seguido dos blocos do Cacique (14h às 16h), das Ilusões (17h às 21h) e do Encontro de Blocos Líricos (15h às 17h).

Pelo décimo ano consecutivo, o percussionista Naná Vasconcelos comandará a abertura oficial do Carnaval de Recife, na sexta à noite, regendo centenas de batuqueiros de nações de maracatu em palco montado no Marco Zero.

BAHIA

Os baianos consagram-se nos trios elétricos como os reis da batucada e sabem como ninguém manter sua majestade com muito jogo de cintura, literalmente. Só na capital, Salvador, a festa deste ano deverá movimentar R$ 500 milhões, de acordo com a Secretaria de Turismo do Estado.

Não bastassem as eternas musas Claudia Leitte, Ivete Sangalo e Daniela Mercury, o Carnaval da capital baiana ainda contará com atrações internacionais, como o eterno menudo Ricky Martin e o DJ David Guetta, que esteve recentemente no Brasil para shows com a banda Black Eyed Peas. O DJ francês se apresenta na noite do dia 8 à frente do Bloco Salvador, Só Pra Ficar - mesmo trio elétrico que trará Ivete Sangalo na noite do dia 4.

Outra novidade é a dupla sertaneja Jorge & Mateus, que comandará o Bloco Pirraça no dia 6. Os preços dos abadás variam de R$ 80 (Me Ama, no dia 6) a R$ 1.000 (Ivete no Cerveja e Cia VIP).

O circuito mais antigo, o Osmar (Avenida), reúne os desfiles dos blocos e agremiações mais tradicionais. Já o Dodô (Barra-Ondina) é reduto de blocos alternativos formados por estudantes universitários e artistas. É lá que você encontra Gilberto Gil, Asa de Águia, Araketu, Timbalada, Ricardo Chaves, Margareth Menezes, Armandinho, Olodum e Carlinhos Brown, entre outras figurinhas tarimbadas do Carnaval baiano. Mas atenção: lá a Folia começa mais tarde, por volta das 16h, e adentra a noite, ao contrário do Circuito Campo Grande, que iniciará mais cedo, com 208 atrações.

Já o circuito Batatinha percorre área tombada pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) como Patrimônio Cultural da Humanidade, tendo como marca as bandinhas de sopro, charangas, grupos folclóricos e desfiles de fantasia.

Quem não tem abadá acompanha os blocos das sacadas dos prédios ou do lado de fora do cordão de isolamento, na chamada pipoca - esquema grátis, mas menos seguro. Há, ainda, os trios independentes e sem cordas que arrastam foliões de todo tipo liderados por artistas como Gilberto Gil, Daniela Mercury e Armandinho.

E a festa não é só na capital. Enquanto todo mundo despede-se da Folia com gostinho de quero mais em Salvador, a cidade de Porto Seguro dá a largada para uma maratona de três noites de shows em plena Quarta-feira de Cinzas. A edição 2011 do Carnaporto - o Carnaval prolongado da cidade - contará com apresentações de Peixe, Tomate, Claudia Leitte, Jammil, Cheiro de Amor, Jorge & Mateus, Timbalada e o hipnotizante rebolation do Parangolé. Haja pique para tanta folia...