Cultura & Lazer Titulo
Lília Cabral, a Hillary Clinton brasileira
Renata Petrocelli
Da TV Press
15/11/2003 | 19:20
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  Assim que recebeu a sinopse de Chocolate com Pimenta, a novela das seis da Globo, Lília Cabral se viu tomada por uma curiosa mania: recortava todas as fotos de mulheres que encontrava em colunas sociais de jornais e revistas. A atriz confessa aos risos que chegava a pedir para arrancar páginas de velhas revistas folheadas na sala de espera do dentista, do cabeleireiro ou da manicure. Foi assim que ela começou a se aproximar da personalidade de Bárbara, a mulher do prefeito de Ventura, Vivaldo (Fúlvio Stefanini). “Sempre que me deparo com uma nova personagem, fico ligada o tempo inteiro. Parece que tudo pode servir à composição”, diz a atriz, com ar elétrico.

O estilo ‘mulher de político’ também não foi esquecido. A maior inspiração veio de Hillary Clinton, esposa do ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. “Nas fotos, ela aparece sempre séria, não ri quase nunca”, afirma a atriz.

A intenção, ela destaca, nunca foi copiar expressões ou comportamentos típicos, mas apenas ter a certeza de que existem mulheres como Bárbara na vida real. Da mesma forma, foi inspirada na eterna rivalidade feminina que Lília desenhou a relação de Bárbara com a megera Jezebel (Elizabeth Savalla). “Duvido que exista mulher que não se identifique em algum momento com a disputa delas”.

De fala tranqüila, Lília escancara um enorme sorriso ao comentar as maldades da personagem. Não que ela tenha qualquer predileção pelas vilãs. Aliás, se precisar encarar cenas de violência física, a atriz logo toma antipatia delas. “Quando tenho de fazer, faço. Mas não gosto de dar tapas na cara, ameaçar, apontar armas”.

Este não é, definitivamente, o caso da primeira-dama de Ventura. Lília atribui a leveza de suas maldades ao humor do texto de Walcyr Carrasco e ao clima dos anos 1920, que conferem à personagem uma saborosa ambigüidade. “O tom da comédia ameniza o lado ruim dos personagens. Nada fica óbvio”.

TV PRESS - Como você equilibra humor e vilania na composição da Bárbara?
LÍLIA CABRAL - Desde a sinopse, estava claro que a novela era uma grande brincadeira. Em todos os personagens, por piores que sejam, há sempre um traço marcante de humor. E a comicidade sempre ameniza um pouco o tom da pessoa ruim. Eu, particularmente, gosto muito de caminhar entre as duas coisas. É um exercício ótimo, porque é necessário lidar com a verdade absoluta para dominar os momentos em que se é engraçado, rude, severo, mau ou triste. Isso humaniza muito os personagens. Além disso, as pessoas se divertem. E eu acho que, principalmente num horário das seis, se não houver essa preocupação com o entretenimento, perde-se o sentido. Outra coisa que gosto muito é saber que estou no limite. Se for acima, estou exagerando. Se for abaixo, perco o tom. E esta personagem me permite exercitar tudo isso de uma forma fantástica.

TV PRESS - E você já se sente confortável com a personagem?
LÍLIA - Não sou do tipo de atriz que relaxa. Estou sempre buscando. A cada semana, estabeleço uma espécie de objetivo, algo que ainda não tenha ficado muito claro ou que eu queira destacar mais. Se não, fica tudo muito fácil, o trabalho se esvai, fica descartável. Sempre achei que o trabalho do ator fosse uma espécie de somatório. Quanto mais coisas eu somar, mais a personagem vai crescer. Ficar parada não me interessa.

TV PRESS - O que mais costuma atrair você em um convite para atuar na TV?
LÍLIA - Sempre penso primeiro nas pessoas com quem vou trabalhar. No caso de Chocolate com Pimenta, até relutei um pouco, porque tinha acabado de fazer uma novela das seis. Mas sempre quis trabalhar com o Jorge Fernando e ainda não tinha tido a oportunidade. E o Walcyr também é um autor que eu gostaria que conhecesse o meu trabalho. Na verdade, o personagem é a última coisa que a gente considera, porque primeiro vem a sinopse, depois a primeira reunião com o elenco. Só depois recebemos aqueles cerca de 12 capítulos e vamos para casa ler. E aí já está aceito o convite, não tem mais jeito. É esperar e acreditar que tudo vá dar certo.




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