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Diplomata americano relata detençao de 444 dias
Do Diário do Grande ABC
04/11/1999 | 15:29
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``A amargura pertence ao passado', garantiu Michel Metrinko, um dos diplomatas americanos detido durante 444 dias por revolucionários islâmicos iranianos há 20 anos, mas a lembrança de seu calvário ainda permanece presente.

Ainda apaixonado pelo Ira, Metrinko se retirou da atividade diplomática há três anos e agora vive em Vienna, um charmoso subúrbio de Washington onde recebe voluntariamente vários amigos iranianos, tanto aqueles que vivem nos Estados Unidos quanto os que simplesmente estao de passagem.

A lembrança da dura prova passada continua gravada a ferro e fogo em sua memória, embora suas palavras sejam muito moderadas ao relembrar os fatos. ``Os estudantes seguidores da linha do Ima (Ruholá) Khomeini' que invadiram a embaixada norte-americana em 4 de novembro de 1979 ``eram, por momentos, agressivos, às vezes, frios e cruéis, e certas vezes até amáveis', disse Metrinko.

Michel Metrinko passou dez meses em isolamento total, uma boa parte deste tempo na grande prisao de Evine, em Teera, ou em uma cela dos ``Komiteh', a temida milícia revolucionária islâmica.

Bruce Laingen, ex-encarregado de assuntos americanos em Teera durante a tormenta revolucionária, garantiu que a tomada da embaixada e a detençao de 53 membros de seu pessoal ``nao foi uma surpresa total', os edifícios já haviam sido ocupados brevemente em fevereiro deste mesmo ano, quando os problemas começaram. ``Surpresa foi é que esta situaçao se estendesse 444 dias!', afirmou o diplomata.

Detido a maior parte do tempo no Ministério das Relaçoes Exteriores da jovem república islâmica, Laingen estima ter suportado condiçoes menos duras de reclusao que vários colegas, submetidos a um isolamento total. ``Alguns eram agressivos, outros, neutros', destacou o diplomata a falar sobre seus seqüestradores. Lembra em particular uma jovem iraniana radical que era porta-voz dos estudantes sob o codinome ``Mary', que falava inglês fluentemente por ter passado a infância nos Estados Unidos.

``Mary', cujo nome verdadeiro é Massoumeh Ebtekar, era conhecida por suas críticas antiocidentais. Atualmente, é vice-presidente da república islâmica e uma das principais conselheiras do atual presidente, o reformista Mohammed Khatami. ``Voltei a vê-la', disse Laingen.

Vinte anos depois daquele sucesso, o tema de uma eventual volta a Teera divide os ex-reféns. Laingen quer retornar quando ``o momento for apropriado' para ``contribuir na criaçao de uma atmosfera necessária para retomar nossas relaçoes' com o Ira, quando os dois países tiverem feito progressos suficientes para realizar uma verdadeira aproximaçao. Infelizmente, vinte anos depois, ``o momento ainda nao é apropriado para que meus colegas e até mesmo voltemos para lá', garantiu.

Michel Metrinko, por sua vez, tentou voltar recentemente após receber o convite de um amigo estrangeiro que vive no Ira, mas nao conseguiu obter um visto. ``Deveríamos ter relaçoes com o Ira. O fato de nao tê-las há 20 anos é uma prova da falta de profissionalismo de parte dos dois governos (o iraniano e o americano)', disse Metrinko, com pesar.




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