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Obras-primas de Antonioni serão exibidas em S.Bernardo
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
09/06/2004 | 19:40
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No momento em que o cineasta Michelangelo Antonioni anuncia um breve retorno às atividades, São Bernardo programa uma pequena mostra com dois de seus filmes. Durante os quatro dias do feriado, o Teatro Cacilda Becker exibirá A Noite (1961) e O Passageiro: Profissão Repórter (1975) a R$ 2 o ingresso. São ambos obras-primas desse cineasta italiano, que fará 92 anos em setembro próximo e dirigirá, tal qual os colegas Steven Soderbergh e Wong Kar-Wai, um dos três episódios do inédito longa-metragem Eros, atualmente em pós-produção.

Antonioni tem uma fama autoral precisa, identificada com os “tempos mortos” que ele cunhou visualmente. Trata-se de uma relativização da ação dramática, ou seja, a câmera passa a se interessar não somente por aquilo que ocorre diretamente aos personagens ou aquilo que possa massagear as emoções do espectador. A câmera de Antonioni explora o espaço cênico, deixa seu personagem de lado para aventurar-se pelos cenários ou por peças de figuração que pouca importância teriam na montagem clássica, pouca diferença fariam na narrativa típica do “começo-meio-fim”. O travelling (movimento de câmera) desenvolve-se em Antonioni como uma questão de caráter, ao explorar o tempo e o espaço sem se deixar chantagear pela expectativa do público.

Talvez o “tempo morto” mais ilustrativo seja um presente em O Passageiro: Profissão Repórter, filme programado para a mostra em São Bernardo. Jack Nicholson vive jornalista que assume a identidade de seu vizinho de porta, morto, numa pensão africana. Envolve-se com a velhacaria do lugar por conta dessa troca de nomes. Há uma cena, sem cortes, em que Antonioni deixa o personagem para focar uma janela e (supostamente) escapar por ela. Ao fim da seqüência, o movimento de câmera dá a idéia exata do destino daquele homem, sem apelar para subterfúgios que não os da imagem.

A Noite é o outro acepipe antonioniano presente à mostra. Jeanne Moreau e Marcello Mastroianni vivem o casal que percebe o tédio e a escassez de afinidades aos quais foi submetido seu casamento de dez anos. O cineasta apresenta o antônimo audiovisual do amor consumado, que começa na conquista, é desafiado e refloresce ainda mais vigoroso. Com Antonioni, não tem essas de conflito coagulado.

Mostra Michelangelo Antonioni – Exibição de dois filmes do cineasta italiano – A Noite (1961): nesta quinta e sábado, às 20h; domingo, às 16h; O Passageiro: Profissão Repórter (1975): nesta sexta e domingo, às 20h; sábado, às 16h. No Teatro Cacilda Becker (Paço Municipal) – praça Samuel Sabatini, 50, São Bernardo. Tel.: 4330-3444. Ingr.: R$ 2 (grátis para maiores de 50 anos).




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