Economia Titulo Mercedes
Ministro do Trabalho cogita ajuste no PPE como opção à Mercedes

Nogueira aventou chance de elevar contrapartida
do governo e criticou as demissões por telegrama

Vinícius Claro
Especial para o Diário
20/08/2016 | 07:12
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Claudinei Plaza/DGABC


A fim de evitar as demissões anunciadas pela Mercedes-Benz, de 1.870 funcionários, o ministro do Trabalho e Emprego, Ronaldo Nogueira, indicou a possibilidade de aumentar a contrapartida do governo no PPE (Programa de Proteção ao Emprego), ontem, durante reunião no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em São Bernardo.

“Vamos dialogar com as empresas, pretendemos aprimorar, rediscutir o PPE, no aspecto de que o programa possa ser mais abrangente, inclusive no sentido de que, se possível for, aprimorar a parte de participação dos investimentos para assegurar o trabalhador no emprego, principalmente neste período em que a crise é mais aguda”, afirmou Nogueira.

Hoje, os aportes do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) para o programa têm participação de até 50% da redução do salário dos trabalhadores afastados pelo PPE, sem ultrapassar o limite de 65% do teto do seguro-desemprego (R$ 968). Por exemplo, no caso da Mercedes, da redução de 20% nos vencimentos, 10% eram pagos pelo governo. Apesar de o ministro não indicar percentuais, o presidente do sindicato, Rafael Marques, sugeriu elevação para até 75% do valor, com o intuito de aliviar para as empresas os desembolsos com os salários. “Em seis meses, o governo remunerou em salários R$ 78 milhões, só para as empresas do Grande ABC. Parece muito para manter emprego, mas gasta-se muito mais com seguro-desemprego”, justificou Marques.

O ministro do Trabalho afirmou que entrará em contato com a direção da Mercedes para colocar o governo à disposição da companhia e participar das negociações com o sindicato. Ele também criticou a forma com que os funcionários têm recebido o aviso das demissões, por telegrama. “É preciso haver relação respeitosa nesse quesito. Quando o trabalhador é chamado para uma carga horária maior, no momento da economia aquecida, para trabalhar numa jornada maior, ele sempre faz esse gesto. O profissional precisa também contar com respeito na hora de ser demitido. Tem que ser chamado, olhado nos olhos, porque não se trata de um objeto. Trabalhador tem alma, sentimento, é um ser humano”, disse. “E as necessidades e as dores do filho do empregado não são menores do que as do filho do empregador.”

Nogueira acredita que manter o nível de emprego é forma de estabilizar a economia, já que os operários são consumidores e, enquanto empregados, mantêm o comércio aquecido. “A empresa precisa ter a visão de que salário não é despesa, mas investimento, e que ela precisa de consumidores”, assinalou. “Não é possível resolver o problema demitindo.”

NEGOCIAÇÃO - Marques ficou satisfeito com o resultado da reunião. “O gesto do ministro, de vir até aqui, ligar e fazer o contato com a direção da empresa, já é muito positivo. Temos reuniões agendadas para hoje (ontem), sábado (hoje) e domingo (amanhã).”

O sindicalista disse que não houve avanços nas duas primeiras reuniões com a Mercedes, nesta semana, e afirmou que há obstrução da direção da matriz alemã no avanço das negociações. “É um absurdo, porque na Alemanha eles não fariam isso, demitir por telegrama. E, em 2011, diga-se de passagem, quando a Mercedes teve o recorde de fabricação de caminhões no Brasil, muito desse recorde em produção foi transformado em remessas para a Alemanha, sendo aquele ano difícil para eles lá na Europa.”

Marques contou que esteve reunido com o secretário de Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo, José Luiz Ribeiro, na quinta-feira, solicitando, igualmente, contato da gestão estadual com a empresa, e reunião com o governador Geraldo Alckmin. “Sugerimos proposta de médio prazo, por meio do ICMS, especialmente para as empresas que exportam, caso da Mercedes, em que possa haver compensação futura se não demitir”, disse. “A crise no Estado de São Paulo é maior do que no Brasil e mais intensa na Região Metropolitana, onde estão os maiores problemas em relação a demissões, falência e recuperações judiciais na indústria. E é preciso que o Estado, tendo isso como uma realidade, faça algum gesto.”

TELEGRAMAS - Enquanto ocorria a reunião com o ministro, operários da Mercedes queimaram os telegramas recebidos em frente à fábrica. A correspondência solicita o comparecimento no dia 24, para rescindir o contrato de trabalho em 5 de setembro.

Diante do ato, a montadora disse que tem informado constantemente aos colaboradores sobre a gravidade da situação. “A difícil situação do mercado resultou para a companhia em redução de suas receitas. Inevitavelmente, com isso, é imprescindível também diminuir os custos de operação e administração na fábrica de São Bernardo. Se a empresa não conseguir efetivar essa redução, vamos comprometer investimentos planejados para o futuro da Mercedes.”
 




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