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Mais de 900 mil libaneses protestam contra presença síria no país
Da AFP
14/03/2005 | 18:06
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Cerca de 900 mil pessoas, carregando bandeiras libanesas, fizeram uma manifestação gigantesca, nesta segunda-feira em Beirute, exigindo a verdade sobre o assassinato do ex-primeiro-ministro Rafic Hariri e a renúncia do chefe de Estado pró-sírio Emile Lahud. A passeata, sem precedentes na história do país, também pediu o afastamento das autoridades dos serviços de segurança.

Os manifestantes levavam cartazes pedindo a renúncia do presidente: 'Lahud vá com eles (os sírios)', proclamavam. "Vocês querem saber a verdade sobre o assassinato de Hariri? Esta verdade está em quartos escuros dos serviços de inteligência que nos governam e que vocês repudiam", discursou exaltado o deputado Marwan Hamadé, na Praça dos Mártires, no início da cerimônia organizada pela oposição em homenagem a Hariri, assassinado no dia 14 de fevereiro. "Mataram Abu Baha (sobrenome de Hariri) porque perturbava seus planos de submissão do Líbano", disse Hamadé, que também foi ferido em uma tentativa de assassinato em 2004.

De ônibus, de carro ou a pé, por terra ou por mar, milhares de libaneses vindos de todas as regiões do país chegaram ao centro de Beirute. A maré humana, coberta de bandeiras libanesas, não cabia na Praça dos Mártires, rebatizada como Praça da Liberdade. Os 200 mil metros quadrados deste lugar público eram insuficientes para a multidão, que se estendia por três quilômetros em direção à entrada norte de Beirute e aos bairros da periferia.

Segundo os meios de comunicação, foi a maior manifestação já organizada em Beirute, capital do Líbano, país que tem 3,5 milhões de habitantes. Os organizadores se dirigiam aos manifestantes através de alto-falantes, recomendando-lhes que ocupassem locais próximos. 'Vocês são quase um milhão e as pessoas continuam chegando', diziam. Associações econômicas, bancos, oficinas e lojas fecharam as portas por volta do meio-dia, permitindo que seus funcionários se somassem à multidão, assim como universidades e colégios.

Trinta minutos antes do horário marcado para a manifestação começar, comboios vindos do norte, sul e do Vale de Bekaa ainda se dirigiam às ruas abarrotadas de Beirute. Ao longo de 15 km, a circulação na estrada foi desviada completamente para Beirute e os ônibus e carros avançavam por oito pistas, colados uns nos outros. Milhares de veículos vindo do Vale de Bekaa na fronteira com a Síria, para onde os soldados sírios estão se deslocando, causou enormes engarrafamentos.

No Sul do Líbano, de maioria xiita, centenas de carros e ônibus com bandeiras libanesas se dirigiam a Beirute, unindo-se aos comboios formados na montanha drusa de Chuf, ao sudeste da capital, reduto do líder da oposição Walid Jumblatt. Em Beirute, a maioria dos bairros, praticamente vazios, era cruzada por carros com bandeiras libanesas tremulantes.

Dezenas de oradores tomaram a palavra, entre eles deputados e personalidades, insistindo na unidade para conseguir um "Líbano livre, soberano e independente". Um dos líderes da oposição, o deputado druso Walid Jumblatt, pediu a renúncia do presidente Lahud e dos chefes dos serviços de inteligência "no último caminhão sírio" que deixar o Líbano. "Muçulmanos e cristãos juramos por Deus todo poderoso permanecer eternamente unidos para defender o Líbano", exclamou o chefe da redação do jornal 'An-Nahar', Gebrane Tueini, aclamado pela multidão.

Nos arredores do túmulo do ex-primeiro-ministro, perto da grande mesquita que se encontra na Praça dos Mártires, foram instaladas 500 cadeiras para acolher autoridades religiosas, personalidades estrangeiras e deputados.

A multidão que participou da passeata nesta segunda-feira foi muito maior do que a que acompanhou a missa do Papa João Paulo II há cinco anos, estimada na época em torno de 500 e 600 mil pessoas. Esta manifestação fortalece e reforça a posição da oposição anti-síria. O movimento hostil a Damasco rejeita a confirmação de Omar Karami no cargo de chefe de governo, realizada no dia 10 de março pelo presidente Lahud, apenas dez dias após o primeiro renunciar sob a pressão dos protestos e da oposição.

Rafic Hariri foi assassinado no dia 14 de fevereiro em um atentado em pleno coração de Beirute. Depois de sua morte, que provocou comoção no Líbano e no mundo inteiro, Damasco se viu obrigado a anunciar a transferência de suas tropas no país. "A verdade termina sempre por vir à tona, o Líbano não pode viver sem democracia", segundo gravação dos discursos de Hariri que eram reproduzidos por alto-falantes nesta manifestação.




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