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Rio +10: falta de água pode ser causa de futuras guerras
Da Agência EFE
29/08/2002 | 15:53
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A escassez de água no mundo, destacada na Cúpula de Desenvolvimento Sustentável, se somará ao petróleo como causa de futuras guerras, especialmente no Oriente Médio. Atualmente, mais de um bilhão de pessoas não têm acesso à água potável, dizem especialistas. Entre 1990 e 2000 esse número aumentou na África de 293 milhões para 309, e na América Latina subiu de 86 milhões a 92 milhões de pessoas.

A Cúpula de Joannesburgo, nas África do Sul, ressaltou estas cifras em sessões que se centraram em buscar soluções para conseguir uma partilha sustentável de água no mundo. Os conflitos pela água se estenderão a quase todas as regiões do mundo nos próximos 50 anos, conforme uma pesquisa realizada pelo hidrólogo regional da Unesco Carlos Fernández Jaúregui, que afirma que as regiões mais prejudicadas são o Oriente Médio e o norte da África. De acordo com a ONU, 6% da população mundial vive nestas duas áreas, que possuem apenas 1% dos recursos hídricos do mundo.

O último exemplo desta tendência foi a divergência entre Egito e Sudão pela água do rio Nilo depois do acordo de paz do último 20 de julho entre o governo de Cartum e os independistas cristãos e animistas do sul. O acordo estabeleceu a realização de um referendo de autodeterminação que poderia dividir o país, possibilidade o que o Egito qualificou de "loucura". O Sudão e o Egito têm um acordo pelo qual este último país, que sofre cada vez mais devido ao crescimento da população, aproveita a maior parte da água do Nilo, mas esse tratado não vincularia um possível novo Estado no sul do Sudão.

No entanto, nos últimos cinco anos, os conflitos pela água foram registrados principalmente no Oriente Médio. Conforme a pesquisa, lá vivem em crise aberta por causa da água Síria, Jordânia, Israel, Egito e Iêmen; e em crise latente Arábia Saudita, Iraque, Kuwait e Líbia.

A origem da tensão é uma bacia hidrográfica partilhada onde os recursos hídricos em muitos países da região dependem dos estados vizinhos, em alguns casos, até 50%. Existe um grande desequilíbrio no acesso à água na região, de modo que, por exemplo, os palestinos denunciam que Israel controla os recursos hídricos da área, que procedem essencialmente do rio Jordão, que corre pelos territórios ocupados (Cisjordânia e colinas de Golã), de modo que o povo palestino só consome uma quinta parte de sua própria água.

No mundo todo, há 261 bacias de rios que são partilhadas por dois ou mais Estados. O Indo, entre a Índia e o Paquistão, o rio Senegal, entre Senegal, Mauritânia e Mali, Tigre e Eufrates, que nascem na Turquia e passam pelo Iraque e pela Síria, entre outros.

A Turquia faz seu controle da nascente dos rios com o fim de negociar com o Iraque a troca de petróleo e para pressionar a Síria para o fim do apoio aos independistas curdos. Na América, o México tem uma dívida de 1,7 bilhão de metros cúbicos com os Estados Unidos em conseqüência do tratado assinado em 1944 por ambos os países para regular a partilha da água dos dois grandes rios da fronteira: o Colorado e o Bravo.

O problema da divisão da água surge da escassez de um recurso que, segundo o diretor-geral da Unesco, Koichiro Matsuura, fará com que "dois terços da humanidade sofra por falta de água de maneira mais ou menos grave antes do ano 2025". A escassez só pode ser atenuada com um melhor rendimento das tecnologias de extração, distribuição -técnicas muito caras para os países que mais precisam-, além da racionalização do consumo desses recursos hídricos. Apenas os países produtores de petróleo, no Golfo Pérsico e na Arábia, junto com Israel, têm capacidade para utilizar a tecnologia dessalinizadora para ampliar seus recursos hídricos.

O objetivo da ONU é reduzir pela metade o número de pessoas do mundo sem acesso à água até o ano 2015, mas este mesmo organismo reconhece que a escassez de água afetará 5,4 bilhões de pessoas nos próximos 25 anos. Enquanto os países em desenvolvimento passam sede, além de enfrentar problemas de saúde gerados pela falta de tratamento de esgotos, o primeiro Mundo gasta a cada ano 30 bilhões de dólares em água mineral engarrafada.




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