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FHC encerra episódio da demissao de Bräuer
Do Diário do Grande ABC
19/12/1999 | 19:45
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O presidente Fernando Henrique Cardoso considera encerrado o episódio que resultou na demissao do comandante da Aeronáutica, Walter Bräuer, e da assessora do ministro da Defesa Solange Antunes, que gerou graves insatisfaçoes na Força Aérea. O presidente quer agora que o ministro Élcio Alvares continue o trabalho à frente da Defesa, sem se preocupar com as intrigas, uma vez que confia na integridade dele, dando prosseguimento a todos os projetos que estao traçados. Para isso, ofereceu-lhe todo apoio e solidariedade nos últimos dias.

Fernando Henrique, que esteve por trás da nomeaçao do novo comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista, está muito satisfeito com a escolha e nao lhe poupou elogios. Para ele, Baptista foi sábio na conduta das insatisfaçoes na Força Aérea, dando até demonstraçoes de uma clara habilidade política.

No encontro dos dois, ao lado de Élcio, neste sábado, no Palácio da Alvorada, o presidente pediu maiores dados sobre a situaçao da Força Aérea e, depois, de ouvir de Baptista avaliaçao sobre muitas das dificuldades enfrentadas pelos militares, particularmente no campo operacional, FHC fez promessas. O presidente pretende estudar mais detidamente as necessidades de restabelecer operacionalmente a força, dando uma atençao especial à questao dos avioes e a necessidade de oferecer meios para que os treinamentos sejam mais intensos. Seria até mesmo um trunfo para o novo comandante, junto aos companheiros, quando fosse os encontrar, mais tarde, para a primeira reuniao, levar promessas em relaçao ao que mais toca todo militar: a disponibilidade de meios para executar a missao constitucional.

O presidente tem consciência de que, naturalmente, esta crise deixou marcas na Aeronáutica. No entanto, em conversas com amigos, justificava que nao havia outra saída a nao ser demitir Bräuer.

Fernando Henrique comentou que até achava que as afirmaçoes de Bräuer foram feitas sem má-fé e sem nada deliberado. Achou, no entanto, que lhe faltou percepçao ao dar as declaraçoes. Mas, mesmo reconhecendo a qualidade profissional do brigadeiro, afirmou que nao lhe restava outra saída porque, na prática, os comentários foram contra figura do ministro e nao se poderia aceitar uma insubordinaçao dessa ordem.

Para o presidente, o fato de os comandantes do Exército, general Gleuber Vieira, e da Marinha, Sérgio Chagastelles, terem ficado ao lado de Alvares, foi fundamental. Isso mostrou que tanto ele como Alvares estavam fazendo o que qualquer comandado esperava. A atitude dos dois outros comandantes surpreenderam a Força Aérea, que entendeu que este seria um recado para amenizar toda e qualquer disposiçao mais exaltada.

Fernando Henrique, de acordo com auxiliares, durante todo o episódio, em hora nenhuma, pensou em afastar Alvares. Ao contrário, tratou de prestigiá-lo durante as oportunidades que teve, tanto na quarta-feira, como na quinta, quando foram realizadas reunioes e diferentes solenidades, dentro e fora do Planalto. O presidente lembrou que a reuniao de quinta-feira para tratar da venda de 20% das açoes da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), um dos pontos de insatisfaçao da Aeronáutica, o clima foi o melhor possível. Da mesma forma, confidenciou que, dos cinco encontros de confraternizaçao que participou nos fins de ano, desde o primeiro mandato, o último, no Clube da Aeronáutica, foi o mais cordial e amistoso.

O presidente ressaltou que fez questao de nao conduzir pessoalmente o processo de substituiçao de Bräuer, transferindo-a para os ministros da Defesa, da Casa Civil, Pedro Parente, e do Gabinete de Segurança Institucional, general Alberto Cardoso, com objetivo de deixar claro que a questao envolvia o segundo escalçao do governo.

O novo comandante da Aeronáutica passa esta segunda-feira no Superior Tribunal Militar (STM), onde exerce a Presidência. Ele vai dar entrada no pedido de aposentadoria para que possa assumir o cargo da Aeronáutica. Segunda-feira (21), ele assume o novo posto, depois de ter esvaziado as gavetas no STM.

Neste domingo, Baptista ressaltou que considera natural que o Alto Comando da Força ficasse "estremecido" e "sensível" com a interrupçao brusca na cadeia de comando, a segunda em tao pouco tempo.

Colega de turma do ex-ministro da Aeronáutica Mauro Gandra, que pediu demissao do cargo, no início do primeiro mandato de Fernando Henrique, porque o nome dele foi dito numa das gravaçoes no episódio do grampo do gabinete presidencial, Baptista disse que a reaçao dos brigadeiros era apenas de tristeza e que, na cabeça de militar, nao há lugar para se pensar em revolta. "Somos responsáveis pela segurança e revolta gera insegurança e violência, que nós somos totalmente contra", observou ele. "Vamos passar um pano em cima disso e tocar a vida porque temos muito que trabalhar pela melhoria da FAB", prosseguiu. Ele explicou que "militar é uma pessoa diferente" e que, mesmo quando há insatisfaçoes, mesmo quando alguns nao concordam com a soluçao dada para um caso, a revolta é apenas interna, no sentimento de cada um. "A rotina está restabelecida", garantiu.




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