Um clássico cozinhado por séculos, fermentado à poesia, experiência e de feitura artesanal, é assim a receita do diretor Aderbal Freire para Macbeth, com Renata Sorrah e Daniel Dantas, que estreia sexta, no Sesc Pinheiros, em São Paulo.
A trama conta a história de Macbeth, que, guiado pelas previsões de três bruxas, ambiciona a coroa de rei. Para conseguí-la, e mantê-la, comete assassinatos em série, sempre acossado por sua mulher, Lady Macbeth.
Dantas, que dá vida a Macbeth, conta que um dos trunfos de Shakespeare é a proximidade que ele traça entre o ser humano e o monstro. "é bom a gente saber que no fundo não está muito longe das coisas terríveis e baixas que os personagens fazem. Shakespeare revela que estamos muito próximos desses monstros", diz o ator, que confessa que se espanta de nunca ter assassinado alguém e que muitas pessoas torcem para que o casal se dê bem.
Lady Macbeth, ainda hoje uma das maiores personagens femininas do teatro, no contorno de Renata foi traçada pela "tragédia que todos temos", sem ajuda externa. "Tentei fugir das ideias que se têm dela, fui buscá-la onde ela quebra. Quando, sozinha, ela não consegue matar e pede ajuda aos espíritos, ao que há de pior, para engrossar seu sangue, para não fragilizar, é um dos momentos em que enxergo sua humanidade", conta a atriz.
O texto mais curto de William Shakespeare é cercado de polêmicas. Uma delas diz que ele é amaldiçoado, algumas pessoas não citam seu nome. Sem receio de maldições, o trabalho para trazê-lo ao palco foi o respeito ao original e à poesia.
"A maioria das traduções é muito ruim", conta Freire, que traduziu o texto em parceria com João Dantas, filho de Daniel. O diretor complementa dizendo que Shakespeare não é difícil: "A nossa tradução é fidelíssima, escrita para as pessoas entenderem, como Shakespeare também escreveu para que todos entendessem. O mistério é o mistério da poesia.
Shakespeare teve a genialidade de fazer coisas que o público todo adorava e que eram, ao mesmo tempo, cheias de riqueza para as pessoas sofisticadas."
A poesia faz-se presente em todos os momentos. Poetas como Cummings, Goethe, Patativa do Assaré e Manuel Bandeira, foram lidos e relidos, colaborando para a busca da verdadeira poesia shakesperiana. "Numa peça realista é mais fácil você conseguir dizer o texto com normalidade. No texto poético é mais difícil porque pode soar falso, não gosto de citação, quero é viver e entender o personagem", conta Freire.
Macbeth - Teatro. No Sesc Pinheiros - Rua Paes Leme, 195. Tel.: 3095.9400. 6ª e sáb., às 21h, dom., às 18h. Ingr.: R$ 5 a R$ 20. Até 18 de julho.
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