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Recall supera vendas no atacado
Roney Domingos
Do Diário do Grande ABC
16/03/2002 | 18:49
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  Nos últimos dois anos, as montadoras envolveram em campanhas de recall um número de veículos superior ao que venderam por ano às suas concessionárias em 2000 e 2001. A frota de 1,685 milhão de veículos que foi chamada de volta à oficina para corrigir falhas de fabricação de 2000 até agora é superior ao número de carros que as lojas receberam em 2000 (1,489 milhão). O número supera também a venda no atacado em 2001, de 1,601 milhão. De acordo com o Ministério da Justiça, nos últimos dois anos foram abertos 42 processos para formalizar campanhas de recall. O número de veículos envolvidos nestas campanhas está subestimado porque em muitos casos a empresa responsável pela convocação não conhece o universo que terá de atender.

A Fundação Procon de São Paulo conta 52 anúncios de recall nos jornais paulistas desde 1999. Apenas nos primeiros meses deste ano foram registrados sete casos. De acordo com o levantamento, o volume é maior do que o registrado em todo o ano de 1999. No ano passado, foram 15 casos ante 24 em 2000. Órgãos de defesa do consumidor, montadoras e até engenheiros automotivos que projetam os produtos atribuem a forte incidência das campanhas de recall nos últimos cinco anos à aplicação mais rigorosa do CDC (Código de Defesa do Consumidor), em vigor desde 1990.

“Pior do que fazer, é não fazer o que tem de ser feito”, afirmou o vice-presidente da General Motors, José Carlos da Silveira Pinheiro Neto. Além da necessidade legal de responder às exigências do CDC, a empresa – terceira colocada no ranking de participação no mercado – tem uma enorme preocupação com a imagem. Pinheiro Neto afirmou que a GM tem um processo de melhoria contínua de produtos e processos.

Para ele, o aumento do número de casos de recall reflete mais o aumento da produção e da variedade de carros lançados do que a falta de atenção com a qualidade. “Temos uma legislação tão exigente quanto a norte-americana e nosso número de recall não é maior do que o deles, porque têm um mercado muito maior.” Pinheiro Neto afirmou que nenhuma montadora optaria por reduzir a qualidade de seus produtos diante do risco de enfrentar um recall, porque a segunda opção é sempre muito mais cara.

O gerente geral da SAE (Sociedade de Engenharia da Tecnologia da Mobilidade), Fábio Braga, concorda com a visão de Pinheiro Neto. Ele afirmou que as montadoras são muito mais exigentes com os fabricantes de autopeças do que antigamente e que as falhas de produção decorrem do excesso do aumento de exigência do consumidor, a cada dia mais crítico, e do aumento do volume e complexidade da produção de veículos. “Hoje em dia, as fábricas rejeitam o lote de um milhão de peças se apenas uma delas apresentar defeito. Antigamente, a tolerância era de 1%, o que significaria 10 mil peças com defeito.” Braga afirmou que a ocorrência e o volume de veículos envolvidos nas campanhas de recall tendem a aumentar por causa do aumento da exigência. “Hoje em dia o consumidor não tolera um barulhinho sequer.” No entanto, ele ressalta que a indústria se prepara para contornar as falhas. “Ninguém vai jogar o nome no lixo para economizar alguns trocados na produção, até porque o recall seria muito mais caro.”




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