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Contru interdita prédio do Unibanco em Sao Paulo
Do Diário do Grande ABC
17/01/1999 | 19:51
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O prédio do Unibanco, na Avenida Paulista, 2.166, cuja laje do 14º andar desabou ontem, matando o analista de sistemas Ricardo Aparecido de Oliveira, de 21 anos, foi interditado pelo Departamento de Controle de Uso de Imóveis (Contru) e Regional da Sé. O imóvel será liberado assim que o banco apresentar laudo técnico provando que nao há mais risco de desabamento.

A agência do banco, no térreo e com saída para a Rua Augusta, terá funcionamento normal. Os técnicos determinaram a imediata remoçao da laje que, de acordo com o diretor do Contru, Carlos Alberto Venturelli, tinha "ferragem subdimensionada".

Escondida por um forro acústico, a laje que caiu ficava abaixo da laje de cobertura do prédio, apenas nas laterais, com cerca de 10 metros de comprimento por 3 de largura. Segundo Venturelli, foi colocada provavelmente para passagem dos dutos de ar condicionado. O que desabou foi um módulo dessa laje de concreto, com cerca de 3 metros quadrados. Caiu bem no cantinho do andar onde formava um ângulo de 90 graus. E justamente sobre a cabeça do rapaz, que trabalhava naquele momento.

"Se tivesse caído durante a semana teria sido uma tragédia por causa do número de pessoas no local e do pânico", disse Venturelli. Ao cair, a laje danificou parte da rede elétrica e o sistema de alarme e detecçao de fumaça. Por causa disso e do impacto no 13º andar, o Contru pediu um laudo conclusivo sobre a estabilidade estrutural do prédio.

Os pais de Ricardo estavam desesperados hoje no velório da Igreja de Nossa Senhora da Penha. A família mora no bairro de Cangaíba. Em uma cadeira, Lourenço de Oliveira, que ganha a vida consertando geladeiras, sofria quieto. Nem seu irmao, Antonio, teve coragem de falar com ele. A mae, Graça de Oliveira, desabafava ao lado do caixao. "Injustiça nao poder nem te tocar, nem te abraçar", dizia, entre soluços.

Segundo familiares e vizinhos, Ricardo era um rapaz tranqüilo. Formado em escola técnica, em eletrônica, estava no segundo ano de Telecomunicaçoes da Unicid. Em março, completaria um ano na empresa. O tio Antonio, quando chegou, mandou trocar as flores que haviam sido doadas pelo banco. "Eram uma porcaria, tive de comprar outras", disse. "Acham que é pagando caixao e velório já é alguma coisa."

Um advogado já foi contratado pela família para brigar pela indenizaçao. "Sou metalúrgico, conheço os direitos", afirmou Antonio. Ele acha que houve negligência dos engenheiros, nao do banco. A estudante Angélica Rocinholli, amiga de Ricardo, estava revoltada. "Quero ver se é verdade que fizeram vistoria em outubro", disse. "E se, como na Igreja Universal de Osasco, tivesse mais pessoas, fosse um dia normal?"

Ela considera que, no caso do templo, nao fosse uma madrugada de culto, poderia ter morrido só um faxineiro. "No caso do Ricardo foi só ele", comparou. "Se nao fosse um sábado, o que aconteceria?"




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