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Sem-teto já ocupam 27 prédios em Sao Paulo
Do Diário do Grande ABC
06/11/1999 | 18:42
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Está em curso a maior demonstraçao de força dos grupos de sem-teto, desde seu surgimento no fim da década de 80, em Sao Paulo. Depois de dez ocupaçoes promovidas no mês passado, atualmente sao pelo menos 27 os prédios ocupados com fins declaradamente políticos na capital. As açoes estao sendo conduzidas no centro da cidade por três movimentos pró-moradia. Na periferia, as ocupaçoes de unidades em construçao da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) sao feitas por grupos isolados.

Com a ofensiva estratégica, os três grupos que agem no centro estao conseguindo pautar as açoes do governo do estado e da prefeitura e forçar a discussao sobre habitaçao popular. Um levantamento feito pelas próprias associaçoes de sem-teto indica a existência de cerca de cem prédios públicos (municipais, estaduais ou federais) abandonados ou desabitados na regiao central. Incluídos os particulares, esse número pode dobrar. "Estamos prontos para novas ocupaçoes", diz Hamilton Sílvio de Souza, coordenador-geral do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto da Regiao Central. O Sindicato dos Trabalhadores da Economia Informal - um dos que agregam ambulantes na cidade - segue o mesmo rumo.

As novas ocupaçoes têm como novidade exatamente o surgimento de grupos à margem da tradicional Uniao dos Movimentos de Moradia (UMM), que desde 1987 comanda a atuaçao de sem-tetos e moradores de cortiços em Sao Paulo. Reconhecida pela Prefeitura e Pastoral da Moradia da Arquidiocese de Sao Paulo como interlocutora dos sem-teto, a UMM utiliza-se das ocupaçoes - ilegais - como instrumento de pressao política para acelerar mutiroes e a compra de prédios para moradores de cortiços.

Mais dispostos ao confronto, os Trabalhadores Sem-Teto e os ambulantes - comandados por José Ricardo Teixeira da Silva, o Alemao - propoem recompensas imediatas a seus integrantes. Em vez do engajamento político sem garantia de benefícios, como ocorre na UMM, oferecem como perspectiva um local imediato para morar - por meio da invasao.

Táticas - A açao dos "novos sem-teto" é rápida. A nova ocupaçao é deflagrada assim que é reunido um número suficiente de famílias. Os alvos escolhidos pelos novos grupos costumam ser prédios abandonados há mais de 10 anos por dívidas ou pendências judiciais. Antes da invasao, sao levantados os nomes dos proprietários e sua situaçao financeira. Muitas vezes é realizado até mesmo um contato para saber da disponibilidade de venda do imóvel. Tudo isso irá nortear a negociaçao com o estado.

"Muitos proprietários sao convencidos de que farao um bom negócio se o estado comprar o prédio", afirma Souza. A reivindicaçao é a de que, além de desapropriar, o governo abre linhas de crédito para financiamento.

Mídia - Se o impasse impedir a realizaçao do objetivo, nao há perda: o despejo é encarado como um gesto político. Foi o caso da ocupaçao de um prédio na Rua Riachuelo pelos sem-teto da regiao central, em 1998. Retirados em cumprimento a uma ordem judicial pelo Batalhao de Choque da Polícia Militar, os sem-teto colocaram os móveis e pertences na calçada, onde passaram cinco dias. "É uma tática simples: ficamos no meio do caminho de desembargadores, advogados, na cara da opiniao pública e forçamos o governo a arrumar alguma soluçao", ressalta Souza.

A necessidade de repercussao na mídia é um ponto em comum entre os três grupos. A UMM - que condena as açoes do grupo de Souza - considerou negativo o fato de as seis ocupaçoes simultâneas da madrugada do dia 25 terem ocorrido logo após a maior rebeliao da história da Fundaçao Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem). A escolha para a invasao da nova sede do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), cuja obra está embargada por irregularidades, foi, exatamente, para chamar a atençao da imprensa.




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