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FGV é acusada de copiar questões para prova em Mauá
Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC
04/08/2002 | 20:17
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O ginecologista Cleomenes Barros Simões, 50 anos, de Guarulhos, acusa a FGV (Fundação Getúlio Vargas), de São Paulo, de ter “copiado literalmente” 21 questões de conhecimentos específicos – do total de 26 – de uma prova de 1993 do IBCC (Instituto Brasileiro de Controle do Câncer), entidade filantrópica instalada há 34 anos no bairro da Moóca, na Capital. Simões prestou o concurso público, promovido pela Prefeitura de Mauá e organizado pela FGV, para o cargo de médico colposcopista. A única vaga em disputa foi obtida por Emilia Maria Rodrigues Lima, que ocupa o cargo de clínico geral e coordena o PS (Pronto-Socorro) do Hospital Dr. Radamés Nardini. Apenas dois profissionais concorreram à vaga.

A diretoria do IBCC informou – por meio de nota oficial enviada pela assessoria de imprensa – que “a instituição nunca participou da elaboração de provas para a Fundação Getúlio Vargas”. O IBCC até hoje aplica testes para os estagiários do seu Centro de Estudos. Por outro lado, com a ausência do professor Domingo Zurrón Ocio, coordenador da FGV Consult, que, segundo informaram no departamento encontra-se em férias, ninguém na FGV quis se pronunciar sobre o assunto na última sexta-feira. A reportagem do Diário ligou 12 vezes para a entidade. Em uma delas falou com a assessora de imprensa da Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo) da FGV, que disse “não poder ajudar” por se tratar de assuntos distintos.

Vilma Maria dos Santos, secretária de Administração e Modernização Administrativa, que se pronunciou por meio de fax enviado pela assessoria de imprensa da Prefeitura, disse que os “esclarecimentos sobre a utilização de questões aplicadas em outro concurso deveriam ser prestados pela FGV, responsável pela elaboração, aplicação e correção da prova, conforme estabelecido em contrato”. Ainda informou que “não recebeu nenhum recurso do candidato Cleomenes Barros Simões”.

Conhecimento – Porém, Simões não questiona o fato de não ter sido aprovado. “Minha participação foi apenas para ‘pinçar‘ algumas questões que achasse interessantes e modernas, e com o escopo de aferir o meu estágio atual de conhecimentos em patologia do trato genital inferior”, afirmou o ginecologista, que reside em Guarulhos. O médico disse ainda que ao abrir o caderno de questões, na hora, viu que já havia tido acesso às perguntas de uma prova do IBCC. “A decepção foi tamanha que mal tive interesse em respondê-las. Fui, por sinal, o primeiro a acabar, mas fui obrigado a permanecer na sala pelo tempo mínimo estipulado pelos fiscais”, relatou.

A reportagem teve acesso às duas provas, a do concurso público da Prefeitura de Mauá/FGV e a do IBCC. A primeira trazia 50 questões, 16 de Língua Portuguesa e 26 de Conhecimentos Específicos, com testes de múltipla escolha e alternativas de A a D. A do IBCC – espécie de uma apostila – era composta por 148 perguntas, no mesmo estilo, só que com uma alternativa a mais (E), a maioria com a resposta Nenhuma das anteriores. No entanto, 21 questões – do total de 26 da FGV – foram idênticas à prova do IBCC.

O ginecologista afirmou ainda que enviou dois e-mails para a direção da FGV para contestar o fato de a prova ter sido “copiada do IBCC”, mas não obteve retorno. “Será que as outras provas desse concurso não foram copiadas literalmente. Nesse caso, não existe coincidência científica”, afirmou o também autor de obras na área de ginecologia e obstetrícia.




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