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Tragédia no Japão encarece
aparelhos eletrônicos no Brasil
Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
03/04/2011 | 08:00
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A catástrofe ocorrida no Japão, iniciada no dia 11 com um dos mais fortes terremotos da história, teve pouca influência na economia do Brasil. No entanto, os preços dos aparelhos eletrônicos no País devem subir nos próximos meses.

Isso porque cerca de um terço da produção nipônica de componentes eletrônicos está inativa. Nesse grupo estão placas, sistemas e até baterias para os aparelhos.

E essa fatia representa, aproximadamente, um sexto da fabricação mundial desses itens.

"O risco mais iminente é de que o impacto no Brasil seja indireto", analisa o professor de finanças e comércio internacional José Ricardo Escolá de Araújo, que ministra aulas em vários cursos na USCS (Universidade Municipal de São Caetano), FGV (Fundação Getulio Vargas), Trevisan Escola de Negócios e na Febraban (Federação Brasileira de Bancos).

Boa parte da finalização dos aparelhos eletrônicos é realizada na China, um dos principais parceiros comerciais do Brasil. E os chineses dependem dos chips e baterias japoneses para completar seus produtos.

Para Escolá de Araújo, as fábricas ainda têm estoque suficiente para cobrir a demanda por, aproximadamente, dois meses. "Mas é possível que haja oscilações nos preços", diz, citando a especulação em toda a cadeia produtiva como um dos motivos.

EXPECTATIVA - O acadêmico destacou que o terremoto e o tsunami que devastou várias cidades no Japão não foram os problemas mais graves. A questão da usina nuclear de Fukushima está na preocupação do mundo econômico.

"A velocidade de reconstrução do Japão é muito grande", afirma Escolá de Araújo. Ele exemplifica com a reconstrução, em seis dias, de trecho de uma rodovia, na província de Ibaraki, área atingida pelo terremoto.

No entanto a situação da usina nuclear é grave. Mesmo com ajuda internacional, o risco de que a contaminação no Japão se espalhe além das proximidades do vazamento é grande. Mas Escolá de Araújo acredita que em dois meses o país oriental terá resolvido todos os problemas.

O professor destaca que o Japão é a terceira maior economia do mundo. E terá facilidade em contornar os custos das catástrofes, estimados em cerca de US$ 200 bilhões, ou na cotação de sexta-feira, aproximadamente, R$ 326 bilhões.

ENERGIA - Deixando de lado que a situação é grave, o Brasil tem chance de se beneficiar com a catástrofe radioativa. Isso porque boa parte do Japão é abastecida por energia nuclear, e a tendência é que aumente a demanda por fontes energéticas alternativas. "Eles repensarão o sistema de energia", disse o acadêmico.

"Vai aumentar a demanda por petróleo, por exemplo. E o Brasil, sendo autossuficiente, pode se beneficiar na venda do barril ao exterior", explica Escolá de Araújo.

Ele acrescenta que o Brasil poderá vender derivados de minério de ferro, como os vergalhões, para a reconstrução do Japão.

 

Mercado financeiro nacional não será prejudicado

A Bolsa de Tóquio encerrou o pregão de sexta-feira com queda de 0,48%. Na semana, o resultado foi de ganho líquido de 1,8%, mas no acumulado do ano as perdas atingem 6,8%.

O índice Nikkei 225, da Bolsa de Tóquio, reflete como a economia do país se comporta e quais são suas expectativas quanto à recuperação. E mesmo com queda acumulada no ano, durante a semana houveram várias altas diárias.

O professor José Ricardo Escolá de Araújo destaca que, se a Bolsa do Japão se comporta com certa estabilidade, não há porque se preocupar com impactos no mercado financeiro brasileiro.

Ele explica que o movimento esperado para o setor é a elevação do custo financeiro internacional, impulsionado pela demanda de recursos para o Japão se recuperar.

E nesse caso, o Brasil fica em situação isenta. "Nós não possuímos mais dívidas externas. Agora só temos internas", diz Escolá de Araújo. Portanto, países com dívida no FMI (Fundo Monetário Internacional), por exemplo, sofrerão com o encarecimento. (com AE)




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