Na India existem 927 mulheres por mil homens, taxa que cai para 800 por mil nos quatro estados do norte menos desenvolvidos: Uttar Pradesh, Rajastao, Bihar e Hariana. Em um distrito deste último, a taxa chega a 600 por mil.

``Estas taxas criarao problemas sociais e culturais na próxima geraçao', explicou o representante da Unicef na India, Alan Court, em uma entrevista coletiva concedida em Nova Delhi.

O assassinato de meninas já era uma prática comprovada no país, visto que a mulher é considerada uma carga para a família, que terá que pagar um dote para casá-la. Mas o recurso ao aborto quando o feto é do sexo feminino é um fenômeno novo, surgido em conseqüência dos avanços da medicina que permitem saber o sexo do bebê antes do nascimento.

Esta prática se generalizou nos anos 90, informou Vibha Parthasarathy, presidente da Comissao Nacional para as Mulheres. ``Isto se deve nao apenas ao costume do dote. Há também mulheres nas regioes de costumes ainda feudais que optam por nao ter uma filha que teria que sofrer as mesmas humilhaçoes e a mesma submissao que elas', explicou Parthasarathy.

O secretário-geral da Associaçao Médica Indiana, Prem Aggarwal, disse que os médicos estao cada vez mais preocupados com a ``conspiraçao do silêncio' que rege a questao.

``Nossa sociedade se nega a ver as graves conseqüências que estas práticas terao em um futuro próximo', disse. O aborto é legal na India, mas os médicos têm um código de ética profissional que estipula que os exames pré-natais nao podem ter como único objetivo revelar o sexo do bebê. Mas na prática nao é possível distinguir quando um médico faz este tipo de exame com este único objetivo, pois sao estes os mesmos exames que permitem detectar eventuais anomalias no feto.

Organizaçoes nao-governamentais se manifestarao na próxima semana em Nova Delhi e entregarao ao presidente K.R. Narayanan um memorando no qual pedem a proibiçao total da seleçao pré-natal.