Acompanhamos no dia 11 de março um dos maiores tsunamis já vividos no mundo. Lamentavelmente milhares de japoneses morreram e muitos ainda estão desaparecidos. Vimos de perto cidades sendo devastadas como se fossem apenas maquetes. E, mais uma vez diante da tragédia, o povo japonês deu exemplo de civismo e respeito ao próximo. Mesmo com sede, fome e frio, se manteve respeitando o próximo e em filas aguardava em seus lugares e a sua hora de receber doação de alimento, de água...

Aqui no Brasil muitas vezes a fome, a sede e o frio são usados como desculpas para saques, roubos, assassinatos. Na tragédia que aconteceu na região serrana do Rio de Janeiro, no início do ano, vimos comerciantes praticando preços abusivos por uma garrafa de água, pessoas saqueando supermercados e casas abandonadas. Diante disso não pude me abster de reflexão mais profunda sobre essas diferenças gritantes. Não quero generalizar, mas por que no Brasil sempre existe desculpa para tudo? "Roubei porque estava com fome, violentei porque fui violentado, xinguei porque ele xingou primeiro, matei porque..."

Talvez esta seja a mais trágica resposta: as pessoas estão matando sem motivo. Perdemos totalmente o valor pela vida, quem dirá o respeito pelo próximo. Enquanto isso, milhares de pessoas trafegam pelo acostamento, ocupam vagas de deficientes e idosos, pagam propina para se livrar de multas e por ai vai. Com isso chego à conclusão de que nós também temos o nosso ‘tsunami'. Mas ele é silencioso, nem sempre mostrado pelos meios de comunicação. O nosso mata lentamente, acaba com o respeito sem ninguém se dar conta, transgride toda e qualquer ética e valores sem ao menos questionar, mata sem perguntar e sem motivos.

E assim como dizia a banda principal da minha juventude: "Que País é este?" Se ninguém percebeu, o ‘tsunami brasileiro' começou há décadas e suas ondas estão cada vez maiores.

Num país em que todos querem levar vantagem em tudo, a moral, a ética, os valores e os bons costumes se escondem atrás das desculpas esfarrapadas que é só um ‘jeitinho'. Provavelmente morrem muito mais brasileiros, vítimas de violência doméstica, dos crimes, dos assaltos, em acidentes no trânsito, do que os que morreram no Japão... mas aqui viram só estatísticas.

Mauro Miaguti é empresário, diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), regional de São Bernardo e vereador pela cidade.