Economia Titulo Tendência
Cresce a demanda por intercâmbios na região

Com dificuldade para voltar ao mercado,
profissionais usam rescisão para estudar no Exterior

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
18/07/2016 | 07:29
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Ricardo Trida/DGABC


Com o aumento do desemprego no Grande ABC, aumentou a procura por cursos de idiomas e de qualificação profissional no Exterior. Em algumas agências da região, o número de pacotes de intercâmbio vendidos com essa finalidade teve aumento entre 19% e 50% no primeiro semestre de 2016 na comparação com o mesmo período do ano passado.

Diante da dificuldade para se reinserir no mercado de trabalho, muitos profissionais têm optado por utilizar suas reservas financeiras ou o valor das verbas rescisórias – em caso de demissão sem justa causa – para investir em viagem para outro país.

O empresário Flávio Dutra, franqueado da agência World Study em São Bernardo, afirma que, geralmente, esse tipo de curso é procurado por pessoas acima dos 21 anos de idade e que já sejam formadas ou que estejam perto de concluir o Ensino Superior. “O Grande ABC tem um perfil muito fabril. Como a indústria eliminou muitas vagas nos últimos meses, esses trabalhadores desligados viram a necessidade de investir na carreira. Após o retorno, a reinserção no mercado é muito rápida”, comenta.

A empresa contabiliza aumento de 50% no número de pacotes de intercâmbio fechados, neste ano até junho, por moradores da região para modalidades em que o aluno, além de estudar, também pode trabalhar. Entre eles estão graduações, pós-graduações, MBAs e cursos livres, como fotografia e culinária. Os preços para um período de seis meses variam entre R$ 15 mil a R$ 22 mil, sem incluir passagem aérea.

Entre os destinos mais procurados para essa finalidade estão Austrália, Canadá, Irlanda e Nova Zelândia. Fabiana Fernandes, gerente de produtos da CI Intercâmbio e Viagem, explica que esses locais se destacam porque dão ao viajante a possibilidade de permanecer no país por um período determinado após o término dos estudos. No Canadá, por exemplo, o estrangeiro obtém permissão para trabalho em tempo integral depois de se formar em um curso de nível técnico ou vocacional pelo menos (isso quer dizer que cursos de graduação ou masters também se aplicam), e por um período mínimo de 26 semanas em instituição canadense. Passada essa fase, a pessoa pode solicitar visto de residente legal.

Na CI, segundo Fabiana, houve aumento de 19% no número de intercâmbios feitos por moradores do Grande ABC com mais de 25 anos entre janeiro e junho na comparação com os seis primeiros meses do ano passado.

A gerente destaca que as casas de família não são as únicas opções para acomodação, já que algumas pessoas podem não se sentir à vontade. “Existem as residências estudantis e, em algumas universidades, há moradia dentro do campus”, explica.

Na STB (Student Travel Bureau), as vendas de pacotes para clientes entre 25 e 40 anos aumentaram 20%, segundo Débora do Lago, proprietária da unidade da empresa em Santo André. Ela salienta que a agência presta serviço de consultoria aos interessados em fazer intercâmbio. “Fazemos uma análise de perfil para identificar o tipo de curso mais adequado, o país e a língua. Por exemplo, se é melhor investir no inglês ou partir para um terceiro idioma.” A taxa para avaliação é de R$ 387, mas, conforme a empresária, há isenção da tarifa na loja andreense durante este mês.

CASOS - O engenheiro de meio ambiente e de segurança do trabalho Paulo Isaque Pereira dos Santos, 33 anos, é um exemplo de trabalhador que está indo para o Exterior a fim de se qualificar. “Fui demitido do meu último emprego em março, em razão da crise, e verifiquei que o mercado não estava atrativo. Então, decidi aproveitar esse momento para me dedicar aos estudos e aprimorar o idioma.” Ele irá para a Austrália e utilizará recursos que havia guardado, além de parte das verbas rescisórias.

Santos fechou pacote de seis meses com a World Study, mas pretende ficar no país por até um ano. “Espero ter boa aceitação das empresas quando retornar ao Brasil”, comenta o morador de São Bernardo, que irá se instalar na cidade de Brisbane.

Já Rafael Marques Ferreira, 23, de Santo André, se formou no ano passado em Engenharia Química pelo Instituto Mauá de Tecnologia, mas ainda não conseguiu arrumar emprego na área. Ele irá para o Canadá no mês que vem, onde estudará inglês e fará curso de gerenciamento de projetos por um ano. “A minha ideia é permanecer lá trabalhando por mais um ano depois do término das aulas.”

Ferreira comenta que optou pelo intercâmbio por entender que a temporada no Exterior é um diferencial significativo para a carreira. “Quando a gente se forma, todos os currículos são iguais. Então, identifiquei a necessidade de estudar algo que agregasse conhecimento à minha área e, ao mesmo tempo, me tornar fluente no inglês.”


Curso de idioma de um mês parte de R$ 2.253

Para quem busca estudar idiomas no Exterior, um curso de inglês na Austrália com duração de um mês parte de R$ 2.253, segundo a CI Intercâmbio e Viagem. O valor das aulas, apesar de não ser tão elevado, não inclui os gastos com acomodação e transporte. Com a hospedagem, de acordo com o site da empresa, o desembolso sobe para R$ 3.209, pelo menos.

Entretanto, o valor da passagem aérea para a Austrália é bem elevado: não sai por menos de R$ 3.500 ida e volta, já com as taxas inclusas.

Para o Canadá, o preço do curso de 30 dias é um pouco mais caro: R$ 2.680, sem acomodação, chegando a pelo menos R$ 3.250 com a hospedagem no pacote. Voo para Toronto sai por R$ 2.416,35, com taxas inclusas.

Já um curso de seis meses em Toronto com acomodação fica em torno de R$ 14 mil. Em Dublin, na Irlanda, o intercâmbio com o mesmo período de duração está na faixa de R$ 20 mil, também com hospedagem inclusa.

As opções de pagamento do intercâmbio também são variadas. A STB (Student Travel Bureau), por exemplo, possibilita financiar o curso em até dois anos. “A pessoa pode viajar, voltar e continuar pagando. Muitos optam por esse sistema pela elasticidade”, comenta a empresária Débora do Lago, proprietária da agência da STB em Santo André.

Ela acrescenta que, para quem está com o orçamento apertado, uma alternativa é trabalhar no Exterior no período oposto ao dos estudos, de modo a garantir o retorno de pelo menos parte do investimento aplicado. 




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