Economia Titulo Crise
Volks quer abrir PDV até o fim deste mês para cortar 3.600

Decisão é reflexo do tombo de 62,5% nas vendas
desde 2011 e perda de 37% do mercado nacional

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
13/07/2016 | 07:09
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Nario Barbosa/DGABC


A Volkswagen quer abrir PDV (Programa de Demissão Voluntária) na fábrica da Anchieta, em São Bernardo, até o fim deste mês. Serão oferecidos de cinco a 15 salários (tabela base que varia conforme o tempo de casa) mais o valor correspondente a dez pagamentos mensais. O objetivo da montadora é reduzir em 34,3% seu efetivo na planta, composto por 10,5 mil profissionais.

A empresa já informou os trabalhadores que possui a meta de dispensar a mão de obra de 3.600 deles, e que, caso o número não seja atingido, implementará lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho) especial por três meses aos mensalistas e horistas indiretos, dos quais quer cortar 1.100, e desligará 200 horistas diretos com baixa performance por ano, até 2021, além de também colocar os que ficarem em lay-off. Desses, o intuito é dispensar 2.500.

Isso ocorre devido à brusca queda nos resultados da companhia alemã no Brasil. Para se ter ideia, nos últimos seis anos, considerando apenas os primeiros semestres, as vendas de automóveis e comerciais leves (picapes e utilitários) levaram tombo de 62,5%, ao recuar de 337.973 unidades de janeiro a junho de 2011 para 126.775 no mesmo período de 2016, conforme dados da Anfavea (Associação Nacional do Fabricantes de Veículos Automotores). Com isso, a Volkswagen perdeu fatia de 37% no mercado automotivo brasileiro, passando de 20,6% para 13,3%.

“Nós, trabalhadores da Volks, novamente estamos desafiados a encontrar soluções para o momento da grave crise que estamos passando, causada por um mercado extremamente rebaixado e que ninguém ainda aponta quando ou de que forma irá reagir. Decisões erradas ou demoradas da fábrica, como o ‘Dieselgate’ (quando, em 2015, 11 milhões de carros a diesel da marca foram equipados com software que mascara emissões de poluentes), que manchou sua imagem e acarretou dívida bilionária para a empresa; além do atraso no lançamento de produtos, o que poderia minimizar os efeitos negativos da sua participação no mercado, contribuíram para potencializar os efeitos da crise”, aponta o Comitê Sindical dos Trabalhadores da Volkswagen em comunicado aos empregados.

Na fábrica, é sabido que da meta de produção de 250 mil veículos para este ano, apenas 159 mil deverão ser confeccionados. Isso porque a planta tem capacidade para 300 mil. “Infelizmente, a Volks não está vendendo muito. Além do momento ruim, hoje temos apenas a produção da Saveiro e do Gol. O Jetta já vem pintado, nós só montamos. Desde que a montadora parou de fabricar a Kombi, o Gol G4 e o Polo, a ociosidade cresceu muito na empresa”, diz um dos trabalhadores, que pediu para não ser identificado.

Segundo outro empregado, ao mesmo tempo, os funcionários têm receio do que está por vir. “Não troco a Volks de jeito nenhum. De lá não saio, só se me demitirem. Quase ninguém quer pegar o PDV porque sabe que, com o mercado ruim assim, ficará difícil arranjar outro emprego bom como esse”, afirma. “Queremos ser otimistas, já que a empresa já passou por tantos problemas, mas desta vez parece que a situação é mais complicada. Não sabemos o que pensar.”

Se meta não for cumprida, haverá lay-off

No aviso da Volks aos operários, é evidenciada a pressão para que eles façam a adesão ao PDV. No caso dos horistas diretos, no não cumprimento da meta de cortar 2.500, será implementado lay-off com valor de complementação reduzido – percentual não foi definido. Hoje, a quem nunca ficou suspenso pela empresa, o governo oferece subsídio por cinco meses de até R$ 1.542,24, teto igual ao do seguro-desemprego, e o restante é bancado pela companhia. Aos que já foram afastados, será pago apenas o complemento da firma. Ao mesmo tempo, o PPE (Programa de Proteção ao Emprego), que até 30 de setembro reduz em 20% a jornada de trabalho e os salários de 8.400 trabalhadores – com a metade paga pela União, passará a 30%.

Já para os mensalistas e horistas indiretos, cujo objetivo é dispensar 1.100, o lay-off terá duração de três meses e será escalonado. Nos primeiros 30 dias, a complementação será de 70%, e quem fizer a opção pelo PDV receberá apenas cinco salários sem a tabela base (de cinco a 15 vencimentos). No segundo mês, passará a 50%, e quem aderir ao pacote ganhará três salários adicionais. No terceiro, o complemento do lay-off será de 30% apenas, e, o bônus, de um salário. Após esta data, haverá demissão involuntária.

Procurada, a Volkswagen informou, por nota: “As projeções da Anfavea apontam para indústria de 2 milhões de veículos em 2016, queda de praticamente 20% comparado a 2015, e 40% comparado a 2014, quando foi estabelecido o acordo trabalhista em vigência com os empregados da Volkswagen (de não demitir até 2017). Por essa razão, a empresa retomou as discussões com o sindicato para que nas próximas semanas sejam construídas alternativas”.

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC destaca que irá negociar com a montadora. “Não vamos aceitar qualquer condição em troca da nossa determinação de proteger os empregos”, ressalta o secretário-geral da entidade, Wagner Santana.  




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