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Biografias têm missao de atrair jovens leitores
Melina Dias
Da Redaçao
30/04/2000 | 18:36
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Em meio à enxurrada de lançamentos da 16ª Bienal Internacional do Livro - sao mais de mil títulos - alguns chegam com uma nobre missao: arrebanhar jovens leitores para grandes nomes da prosa e poesia brasileiras. É o caso de duas biografias, ambas de jovens autoras ligadas emocionalmente aos respectivos objetos de pesquisa: Oswald de Andrade (1890-1954) e Monteiro Lobato (1882-1948).

Oswald de Andrade (Callis, 60 págs., R$ 14), da jornalista Carla Caruso, é uma ediçao simpática, simples, mas bem-cuidada. O livro é aberto com um poema da autora sobre Oswald, deixando clara a sua devoçao pelo artista e pela figura humana. "...Gordo exuberante/ Guerreiro/ Nos gestos brutalidade/ Lá vem Oswald de Andrade ...".

Na escolha da frase do biografado para a abertura, Carla já começa a trabalhar em prol da identificaçao do jovem leitor com o sofisticado poeta. "Aprendi com meu filho de 10 anos que a poesia é a descoberta das coisas que nunca vi". Coerente, ela dá um tratamento especial à infância e à adolescência de Nonê, o apelido familiar de Oswald.

Assim, surgem passagens divertidas, como a da primeira viagem de Oswald à Europa. Uma foto mostra o gordinho rapaz, entao com 22 anos, fazendo pose de gala (aquela mao no bolso do paletó, que voltaria a ser repetida muitas vezes). Ao lado, a dedicatória da imagem para dona Inês: "Mamae, aqui vai um instantâneo que me fizeram a bordo. Nao mostre a ninguém porque está muito feio, xii! Adeus, abençoe o filho querido. Nonê."

Além de várias fotos, a autora se preocupou em inserir ilustraçoes aparentemente despretensiosas, mas que ajudam a entender o processo de formaçao cultural de Oswald. Uma figura cubista de Picasso ali, uma foto do palhaço Piolim acolá, e o perfil do criador do Movimento Antropofágico vai sendo delineado, sem sustos nem enfado ao leitor (no detalhe caricatura do poeta por Di Cavalcanti).

A mesma fórmula é adotada por Nereide Schilaro Santa Rosa em Monteiro Lobato, da série Biografias Brasileiras (Callis, 32 págs., R$ 14). Para criar empatia entre o leitor e o escritor, a autora destaca a irreverência e a combatividade do homem em detrimento da sua consagrada faceta de escritor infantil.

A pedagoga e professora, que leu Lobato na infância, se esmera em narrar as cabeçadas do escritor na sua luta pela criaçao da indústria petrolífera nacional - ele chegou a ser preso por desrespeito a Getúlio Vargas, dada a grande quantidade de artigos publicados em jornais e cartas enviadas ao presidente, criticando seu governo.

Entretanto, a biógrafa volta à literatura infantil pinçando um desabafo do escritor, cansado de fazer política: "Escrever para crianças. Ah, meu amigo, é admirável. Eu perdi tempo escrevendo para gente grande, que é uma coisa que nao vale a pena".

Por fim, Nereida transcreve uma das últimas frases ditas por Monteiro Lobato a amigos e admiradores em um evento na noite de sua morte, em 4 de julho de 1948: "Tenho muita curiosidade em verificar, pessoalmente, se a morte é vírgula, ponto e vírgula ou ponto final."




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