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Venda da indústria de calçados cresceu 21% este ano
Do Diário do Grande ABC
24/06/2000 | 15:15
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A indústria brasileira de calçados ganhou novo fôlego após a mudança cambial e a melhoria do cenário econômico, com aumento de 21% no volume de vendas externas nos primeiros quatro meses do ano em relaçao a igual período no ano passado.

Mas parte dessa conquista pode ser perdida a partir do segundo semestre. Os motivos sao os altos reajustes do preço do couro e da escassez do produto no mercado. Os preços do couro brasileiro aumentaram entre 40% e 50% desde o começo do ano.

O problema, alerta o vice-presidente para mercado externo da Associaçao Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Ricardo Wirth, é que os fabricantes terao de embutir essa diferença na composiçao do seu preço final, o que poderá reduzir a competitividade na hora de exportar.

Os calçadistas vao definir seus novos preços já em agosto, quando começam a fechar os negócios para a próxima estaçao durante a feira de Las Vegas, nos Estados Unidos. Segundo ele, todos os insumos presentes em um calçado representam 55% de seu preço, sendo que o couro significa 25%. Wirth explica que os exportadores tiveram de manter os valores acertados com os importadores em fevereiro/março de 2000, nao importando que, depois disso, a matéria-prima tivesse seu preço expressivamente reajustado. "Quem assumiu o compromisso tem de entregar a mercadoria; e se o comprador tiver encomendado 10 mil pares e, depois, quiser mais 5 mil, o fabricante é obrigado a vender pelo preço acertado anteriormente."

O motivo da escassez, de acordo com os fabricantes, sao as exportaçoes crescentes do "wet blue" (primeiro estágio da industrializaçao do couro), que desabastecem o mercado nacional. As vendas externas dessa matéria-prima foram equivalentes a 51% do abate nacional no ano passado, segundo o presidente da Abicalçados, Nestor de Paula. Até o início dos anos 90, explica, eram exportados de 20% a 30% da produçao brasileira de wet bue. O aumento das exportaçoes reduziu a disponibilidade interna do produto para as indústrias.

Outro problema que tem afetado a indústria, informa o presidente da Abicalçados, é a cotaçao do couro, que disparou. "Desde a desvalorizaçao cambial até agora, a alta do couro in natura chegou a 120%", diz. Os fabricantes têm pedido ao governo uma política de financiamento de estoques reguladores e a imposiçao de um imposto ou cota de importaçao para a matéria-prima.

O problema, explica o coodenador do Programa de Calçados do Brasil, Heitor Klein, é que existe um tratamento desigual na Uniao Européia. "Os manufaturados, como sapatos e bolsas, pagam imposto de importaçao, enquanto as entradas de matéria-prima como wet blue e couro salgado nao sao taxados", diz. Os importadores nesse caso sao os mesmos que concorrem com o Brasil no mercado internacional de manufaturados. "Ficamos em desvantagem competitiva", diz.

A reduçao da oferta de couro no mercado e o encarecimento do produto estao também comprometendo o avanço do volume de exportaçoes das indústrias calçadistas de Franca. O alerta é do presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados de Franca, Elcio Jacometti, que prevê uma "crise no setor" para ainda este ano, se o preço continuar a aumentar.

Segundo ele, as empresas locais estao atrasando o fechamento de novos contratos de exportaçao porque temem nao receber a matéria-prima, ou recebê-la por um valor tao elevado que o preço pago pelo sapato no mercado internacional nao compense o custo de produçao. "É uma situaçao preocupante que pode retrair todos os avanços que já obtivemos", diz. Ele lembra que, desde a desvalorizaçao, a indústria de calçados de Franca já abriu 2,6 mil novas vagas.

O diretor-presidente da Calçados Bottero, de Parobé (RS) Paulo Victor Kauer, acha que a elevaçao atrapalhou as exportaçoes, forçando reajustes dos sapatos no meio da temporada de negócios. Kauer dirige uma empresa com três fábricas, produçao diária de 12 mil pares e faturamento anual de R$ 35 milhoes. Na Calçados Bibi, também de Parobé, seu diretor-presidente, Marlin Kohlrausch, definiu o quadro como grave e apoiou as tentativas da Abicalçados de limitar as exportaçoes de wet blue. Com fábricas em Parobé, Taquara e Cruz das Almas (BA), a Bibi fabrica 20 mil pares/dia e fatura R$ 70 milhoes/ano.

Exportando 20% do que produz, a Bottero trabalha com botas, um item de alta procura atualmente, que consome mais couro. Porém, em termos de mercado interno, ele prevê uma resposta breve do mercado. Haverá, além disso, o crescimento do emprego de materiais alternativos, como tecidos e produtos sintéticos.




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