O apresentador Augusto Liberato, o Gugu, voltou a afirmar nesta quinta-feira que não sabia do conteúdo da falsa entrevista com supostos membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) exibida, no dia 7 de setembro, em seu programa, o Domingo Legal (SBT). Ele prestou depoimento por cerca de 2h na sede do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), na Zona Norte de São Paulo.

Esse foi o último depoimento tomado pela polícia no inquérito sobre a reportagem, encerrado nesta quinta. Na matéria, dois homens encapuzados que se identificavam como 'Alfa' e 'Beta' ameaçaram diversas personalidades, como o vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo, e os apresentadores José Luiz Datena (Bandeirantes) e Marcelo Rezende (Rede TV!).

Agora, o delegado Alberto Pereira Matheus Júnior, responsável pelo caso, passará as informações colhidas à comarca de Osasco, na Grande São Paulo, incumbida de analisar os supostos crimes cometidos por Gugu e sua equipe e de então oferecer a denúncia à Justiça.

De acordo com o deputado Vanderlei Siraque (PT-SP), que acompanhou o depoimento representando a Assembléia Legislativa de São Paulo (Alesp), o apresentador manteve a versão e responsabilizou os produtores, repórteres e a própria emissora por exibir a matéria – Gugu alegou que é contratado apenas para apresentar o Domingo Legal. O advogado de defesa, Adriano Sales Vanni, entretanto, negou que Gugu teria responsabilizado o SBT pela veiculação da matéria.

Em entrevista coletiva nesta tarde, o delegado Godofredo Bittencourt, que também acompanhou as investigações, disse que os sigilos telefônicos dos envolvidos foram quebrados. Com essa medida, ressaltou Bittencourt, se provou que os produtores do SBT armaram a matéria. No entanto, contra Gugu nada foi provado, já que o número dele não constava na lista dos outros envolvidos.

Indiciamento - Apesar do delegado Matheus Júnior ter anunciado a disposição de indiciar Gugu por apologia o crime antes mesmo do depoimento, o apresentador conseguiu na Justiça uma liminar que impediu tal medida policial.

A liminar em benefício de Gugu foi concedida pelo Departamento de Inquéritos Policiais da Justiça de São Paulo. Segundo o advogado do apresentador, Adriano Salles Vanni, o delito investigado (apologia de crime) é considerado de "menor poder ofensivo e, portanto, não gera antecedente criminal a quem é primário".

O advogado informou ainda que aconselhará o apresentador a fazer um acordo judicial, no qual aceitará indenizar o dano causado pela falsa entrevista. O acordo será necessário caso o aprsentador seja enquadrado na Lei de Imprensa.

A falsa entrevista com o PCC já resultou no indiciamento de cinco pessoas. O produtor Rogério Casagrande e o jornalista Wagner Maffezoli foram indiciados pela polícia no artigo 16 da Lei de Imprensa, que prevê punição para quem divulgar notícias falsas ou fatos verdadeiros deturpados. Já o produtor Hamilton Tadeu dos Santos ('Barney') e os atores que participaram da farsa, Wagner Faustino da Silva ('Alfa') e Antônio Rodrigues da Silva ('Beta'), foram indiciados por apologia ao crime.

Nesta tarde, foi pedida a prisão preventiva de 'Barney', suspeito de ter ameaçado o ator Carlinhos Rocha, uma das testemunhas ouvidas durante o inquérito.

Nova farsa — Gugu participou de uma ‘nova farsa’ nesta manhã. A assessoria do apresentador informou à imprensa que Gugu chegaria em um helicóptero ao Campo de Marte, na Zona Norte da capital, para só depois seguir ao Deic, onde depôs. Um homem de terno claro e com um jornal cobrindo o rosto, parecendo ser o apresentador, desceu da aeronave e entrou em um carro.

Mas tudo não se passou de um artifício para despistar os jornalistas. Enquanto os cinegrafistas disputavam uma espaço para filmar Gugu no Campo de Marte, ele já estava no Deic, onde entrou pelas portas do fundo cercado de seguranças

Milhares de populares esperavam do lado de fora da delegacia na esperança de vê-lo. Muitos demonstravam apoio a Gugu, que passa pelo pior momento de seus 30 anos de carreira. Entre os muitos curiosos, alguns tentavam chamar a atenção da imprensa, como um homem que carregava um cartaz pedindo para que fosse escolhido para participar do reality show Big Brother Brasil, da concorrente Rede Globo.

Processo - Vanni também informou que contratou um escritório especializado em ações cíveis, que examinará as dezenas de horas gastas por outros programas de televisão e verificará eventuais excessos cometidos contra a imagem de Gugu para processar os responsáveis. Estão na mira os programas dos apresentadores Marcelo Rezende, da Rede TV, e José Luis Datena, da Bandeirantes. "Muita gente ganhou audiência em cima do Gugu, que é uma pessoa correta", afirmou Vanni.

Nota da Redação: O Diário OnLine informou incorretamente na quinta-feira que a Lei de Imprensa é a 9.099/95. Na verdade, a Lei de Informação, também conhecida como Lei da Imprensa, é a 5.250. A 9.099/95 estabeleceu os Juizados Especiais.