A imprensa turca saudou neste sábado o regresso à prisão de Mehmet Alí Agca, o homem que tentou assassinar o Papa João Paulo II, e voltou a criticar a decisão judicial que permitiu sua libertação na semana passada.

"O assassino não pôde se livrar" e "Marche, marche à prisão" são as manchetes dos jornais liberais Radikal e Hurriyet, após a decisão da Corte de Cassação turca de anular a libertação de Agca. "De volta para sua casa" é o título do Milliyet, que acrescenta que "foi reparado um erro histórico".

A Corte de Cassação considerou que os 19 anos de prisão já cumpridos por Agca na Itália, devido à tentativa de assassinar João Paulo II, não podem se deduzidos da condenação que deve cumprir por outros crimes cometidos na Turquia. O tribunal considerou também que a decisão de libertar Agca, tomada por um tribunal de Istambul, não teve "fundamento jurídico".

O ex-militante ultranacionalista, 48 anos, foi detido numa casa da parte oriental de Istambul pouco depois da decisão da Corte de Cassação. "Após oito dias de férias, agora passará oito anos na prisão", disse, por sua vez, o jornal popular Vatan, lembrando que o criminoso mais famoso da Turquia deve passar uma década na prisão pelo assassinato, em 1979, do jornalista turco Abdi Ipekci, além de outros quatro anos, depois das reduções de pena já aplicadas, por dois ataques cometidos contra bancos na década de 70.

Agca, que foi extraditado pela Itália em 2000, já cumpriu seis dos 14 anos que tem de ficar atrás das grades, portanto não deve ser posto em liberdade antes de 2014, concluiu o Vatan.

Diante das câmeras da rede de TV NTV, o ministro da Justiça, Cemil Cicek, se negou a dar uma data para a libertação do criminoso, por considerar que esta decisão não é do ministério, mas da Justiça. A imprensa turca aproveitou para criticar a decisão judicial que permitiu a libertação de Agca.

"Quem pagará a conta deste erro?", pergunta o colunista Fatih Altayli no jornal Sabah, ao confessar sua indignação diante dos reiterados erros da Justiça turca, que beneficiam, em particular, conhecidos chefes mafiosos. O colunista faz alusão a um possível conluio agentes do sistema judicial e grupos mafiosos.

"Com este erro de cálculo, deixamos o assassino dar seu espetáculo", disse, por sua vez, o jornal popular Aksam, ao recordar as delirantes declarações à imprensa feitas por Agca após sua detenção, em que afirmou ser nada menos que "o Messias".