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A negativa à CBF (Confederação Brasileira de Futebol) contribuiria para a necessária reorganização do esporte bretão em terras tupiniquins. A recusa serviria para os dirigentes da enlameada entidade calçarem as chuteiras da humildade e admitirem que a maior modalidade esportiva nacional precisa de ajuda de fora. Pois os gringos aprenderam com a gente dentro das quatro linhas e hoje, no geral, seja entre cartolas ou atletas, seja na tática ou técnica, estão anos luz à nossa frente.
Um ‘não’ significaria dar sequência à sua coerência, aquela que um dia – mais precisamente há seis meses – pediu a renúncia do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero. Agradecer o convite e dar as costas a ele seria recado ao mundo do futebol, seu Adenor. Os estrangeiros ficariam intrigados, afinal, quem não quer dirigir a Seleção pentacampeã? Os brazucas, num primeiro momento, ficariam indignados. E, ressalta-se, passaria longe de ser desrespeito ou covardia. Pelo contrário.
O recado contribuiria mais do que qualquer título que o senhor possa ganhar com a camisa verde e amarela, o que eu torcerei para acontecer, mas duvido muito que acontecerá. Seria uma mensagem forte, com carga ideológica diferente de tudo que vemos atualmente por aí. Seria como dizer: ‘O futebol brasileiro tem de, urgentemente, fechar para balanço, rever conceitos e processos, das categorias de base ao grupo convocado para disputar a Copa do Mundo’.
O ‘não’, Adenor, forçaria essa imprescindível reformulação. O senhor sozinho, ou com seus quatro ou cinco auxiliares, por mais competente e sério que seja, não vai mudar a cabeça dos dirigentes e não vai fazer com que os moleques mimados, que hoje vestem o manto canarinho, criem responsabilidade e maturidade.
A CBF é como aquela criança mal-educada, que apronta todas por aí e nunca foi repreendida pelos pais. As confusões e as vergonhosas situações protagonizadas sempre foram minimizadas. O corretivo pode ser um simples ‘não’. Mas o senhor, Adenor, foi mais um a passar a mão da cabeça desse ser problemático.
Foram muitos os motivos para dizer ‘sim’. E foi bem mais fácil do que dizer ‘não’. Imagine aquele gaúcho, que foi um zagueiro mediano, e que começou a ser técnico, nos idos dos anos 1990, em equipes como Guarany de Garibaldi, Veranópolis e Ypiranga de Erechim, receber um caminhão de dinheiro para realizar o sonho de comandar a Seleção mais vencedora do planeta? É claro que a resposta foi ‘sim’. Tinha de ser ‘não’. Pelo bem do futebol brasileiro. Pelo bem dos torcedores. Por seu bem.
O senhor fez história, Adenor. É um vencedor. Profissional de gabarito. Pessoa diferenciada. Ganhou a América e o mundo com Corinthians – aliás, é o técnico que mais taças levantou no clube. Conquistou a veneração do ‘bando de loucos’ e o respeito dos adversários. Mas perdeu a oportunidade de fazer algo muito maior, sem qualquer prancheta nas mãos, sem a preleção na ponta da língua e sem o esquema tático na cabeça.
Com um simples ‘não’, o senhor seria o líder de uma revolução. Mais pela atitude do que pela palavra. Faltou justamente o que está em falta no selecionado brasileiro, dentro e fora de campo: atitude. Vai lá, Adenor, ser só mais um no antro dos soberbos, arrogantes, incompetentes e desleais.
Mas saiba que o senhor não faz parte desse time.
Era hora de dizer ‘não’, Tite.
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