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Analistas não admitem acerto do BC na Selic
15/10/2011 | 10:00
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Diante dos mais recentes indicadores de atividade, os analistas reconhecem que a desaceleração da economia tem sido mais profunda do que eles esperavam. Difícil é arrancar deles a confissão de que o Banco Central estava correto quando delineou um cenário em que a atividade econômica iria desacelerar significativamente neste período, até como forma de preparar o mercado para o corte 0,50 ponto porcentual da Selic que ele efetivaria em agosto. "Realmente, o BC antecipou a desaceleração mais forte da economia. Mas ninguém duvidava que isso fosse acontecer", diz o economista do Banco ABC Brasil, Felipe Wajskop França. A discussão, de acordo com ele, era sobre a persistência da inflação.

O fato é que depois da divulgação, na quinta-feira, do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de agosto, com queda de 0,53% na comparação com julho, na série com ajuste sazonal, bancos e consultorias começaram a divulgar relatórios nos quais admitiram que a economia está mostrando desaceleração mais profunda do que o esperado. Isso ocorre no mesmo momento em que alguns setores começam a confirmar aumento do nível de estoques. No setor automotivo, por exemplo, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informou que em setembro o estoque de veículos nos pátios das montadoras e na rede de concessionárias chegou a 378.891 unidades, o equivalente a 36 dias.

Para Marcelo Gazzano, economista do Royal Bank of Scotland (RBS), a taxa de inflação que a autoridade monetária entregar no final do ano é que confirmará se o BC está certo ou errado. "Olhando os dados de desaceleração, pode-se dizer que ele (BC) está mais certo hoje do que achávamos lá trás. Mas não dá para dizer isso antes de ver se ele vai entregar a inflação na meta", pondera o economista. Para o próximo ano, o RBS trabalha com uma inflação de 5,5%. No que se refere ao PIB, o economista tem previsão de 0,10% para o terceiro trimestre e de 3,2% para o fechamento deste ano. Esta projeção anual de PIB do RBS resulta de revisão feita ontem, de um patamar de 3% a 3,5%, para o qual o banco trabalhava com o teto. A produção industrial deverá fechar com expansão de 1,9%, taxa bem inferior ao avanço de 10,50% apurado em 2010.

A verdade é que quase todos os departamentos econômicos de bancos e consultorias se alinhavam com o prognóstico do BC quanto à desaceleração da atividade industrial, mas jamais podiam imaginar que a desaceleração poderia afetar a demanda via vendas do varejo. Afinal, explica França, do ABC Brasil, do lado da renda e do consumo todos os sinais eram no sentido da continuidade do aquecimento. "Esperávamos que estes fatores fossem manter a demanda", afirma o economista. De acordo com ele, as revisões de PIB nos bancos e consultorias estão sendo efetivadas pelo comércio, que desacelerou mais do que o esperado. "A surpresa foi por aí", diz o economista, para quem o PIB deste ano fechará em 3,3% e, no ano que vem, entre 3,5% e 4%. A produção industrial neste ano deve fechar em 0,8%, segundo o banco, ante uma projeção de 1,5%, há um mês.

Em agosto, o indicador de vendas no varejo ampliado (que considera as vendas de carros e materiais de construção) caiu 2,30% na comparação com julho, e as vendas restritas registraram uma queda de 0,40%. Ao anunciar ontem, por meio de relatório, queda de 0,60% em agosto no PIB mensal calculado pelo Itaú Unibanco, o economista da instituição Aurélio Bicalho reconheceu que a desaceleração da economia é maior do que ele esperava e que o comportamento do varejo surpreendeu.

O gerente-executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flavio Castelo Branco, também defende que parte do cenário de desaceleração previsto pelo BC, que viria pelo lado da indústria, era projetado pela confederação. "Muito daquele cenário vem da incerteza provocada pela turbulência na economia mundial, que afetaria as exportações. Há que se lembrar que o primeiro semestre, do lado interno, foi marcado pelo aperto de juros, o que levou ao aumento dos estoques", comenta Castelo Branco.

Surpreendente é a avaliação do gerente da CNI, que vê este processo de desaceleração da economia no segundo e terceiro trimestres como apenas um ajuste de estoques. "Não creio que seja algo mais forte. Está mais para um ajuste de estoque do que para um movimento generalizado. Os setores que já estavam ruins devem continuar com uma demanda menor. Agora, com a política fiscal mais expansionista, melhora um pouco", prevê Castelo Branco. "Sem dúvida que o BC via, e a gente também, uma economia menos aquecida para este momento, o que demandava ajustes dos instrumentos", diz o gerente da CNI, para quem o câmbio valorizado, como estava, ajudava no curto prazo, mas prejudicava no longo prazo. Pelas previsões da CNI, o PIB Industrial fecha positivo em 1,2% neste ano e o PIB geral, em 3,4%.




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