Após 15 anos de luta pela preservação do bem,
imóvel localizado em Ribeirão Pires será restaurado
A casa do produtor de cinema Herbert Richers (1923-2009) finalmente se tornou patrimônio cultural de Ribeirão Pires. Publicado nesta semana, o decreto municipal número 6.606/2016 dá fim a 15 anos de espera e tentativas frustradas de proteção do imóvel. Com o reconhecimento, a proprietária da residência, as Lojas Cem, será obrigada a restaurá-lo em prazo de 180 dias, além de conservá-lo com suas características originais.
O casarão data da década de 1950 e serviu de cenário para dois filmes estrelados pela famosa Família Trapo, Papai Trapalhão, rodado em 1968 com a participação de Jô Soares e outros famosos, e Golias Contra o Homem das Bolinhas. Após ser adquirido pelas Lojas Cem, localizada na Rua João Domingos de Oliveira, região central do município, foi escondido pela fachada do estabelecimento comercial e viveu longos anos de abandono, com pichações e deterioração de suas características da época.
A casa é o primeiro patrimônio a ser tombado na cidade após a retomada dos trabalhos do CATP (Centro de Apoio Técnico ao Patrimônio), em 2014, e do Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Cultural e Natural, em 2013. A lei municipal que dispõe sobre a preservação do patrimônio foi criada em 1999, mas nunca colocada em prática.
“Agora que recuperamos o livro de tombo, que havia sido extraviado há mais de 20 anos, vamos registrar os três primeiros bens culturais da cidade: a Capela do Pilar, reconhecida pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico) em 1975, o Conjunto Ferroviário, também tombado pelo órgão estadual em 2011, e agora o casarão, primeiro bem de tombamento municipal”, destacou o presidente do CATP e secretário adjunto de Cultura de Ribeirão Pires, Marcílio Duarte.
Para Duarte, o reconhecimento do patrimônio representa avanço para os demais bens culturais da cidade, inclusive a Fábrica de Sal, ameaçada pela construção de shopping center. “O ato do Executivo demonstra a importância que o patrimônio terá para a cidade daqui para a frente. Sobre a Fábrica de Sal, inclusive, o prefeito (Saulo Benevides – PMDB) já se comprometeu com o Condephaat a não realizar a demolição e estabelecer o perímetro de tombamento para não prejudicá-la com possíveis usos do restante do terreno.”
O secretário adjunto afirmou que não tem informações sobre o uso para o qual a Casa de Herbert Richers será destinada pelas Lojas Cem. “Eles podem usar como escritório, parte administrativa ou algo cultural. O importante é preservar as características.” A empresa foi procurada pelo Diário para detalhar o projeto de restauro e o uso do imóvel, mas não retornou até o fechamento desta edição.
Cineasta importou tecnologia norte-americana
Nascido em 1921, em Araraquara, São Paulo, Herbert Richers era proprietário da Herbert Richers Produções Cinematográficas S.A. Seus pais se conheceram em Ribeirão Pires, na Fazenda Canaã, e ali se apaixonaram. Adolescente, ele pensava em ser fotógrafo por influência do tio. No entanto, ao frequentar o modesto Cine Lourdes para assistir a filmes como Flash Gordon e Mandraque, acabou por despertar seu gosto pelo cinema.
Daí para frente dedicou-se à área e, na fase adulta, passou a produzir filmes de importância, como Grande Sertão. Conheceu Walt Disney (1901-1966) e tornaram-se amigos. Foi assim que, em viagem aos Estados Unidos, aprendeu nova tecnologia de dublagem desenvolvida por Disney e, por recomendação do norte-americano, introduziu no mercado brasileiro. É a partir daí que nasce o império da “Versão Brasileira, Herbert Richers”.
Morto em 2009, aos 88 anos, Richers estava endividado e seus estúdios viviam tempos de esquecimento. O que sobrou de sua memória, além da vasta obra cinematográfica, é o casarão de Ribeirão Pires.
Para o administrador de empresas Herbert Pagani Galvez, 56 anos, pai desta repórter e que herdou o nome por causa do “Versão Brasileira, Herbert Richers”, é curioso saber que existe uma casa onde o produtor viveu e filmou. “Vi muitos filmes dele na minha infância e juventude. E minha mãe viu muitos mais, já que colocou o nome dele em mim, seu primeiro filho. Gostaria de visitar o local um dia e, quem sabe, levá-la para conhecer também.”
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