The Neon Demon é super-hiper estilizado. Uma garota desembarca em Los Angeles e rapidamente começa a ser disputada por fotógrafos e estilistas. Elle Fanning é ?natural?, todas as demais modelos foram corrigidas ou aprimoradas pela cirurgia plástica. Ela provoca desejo - e ódio. Winding Refn pode estar flertando com thrillers italianos dos anos 1960, de diretores trash que viraram cults, mas seu filme imita, sem chegar lá, David Lynch. A garota desenvolve um ego gigantesco. Acha que é indestrutível, um perigo para os outros e outras. Como em Lynch, torna-se uma aberração aos olhos de seus (e suas) semelhantes. E precisa ser destruída. Algumas observações poderiam ser interessantes - sobre a beleza natural -, mas o filme não convence. Recebeu uma torrente de vaias.
Juste la Fin du Monde é o sexto filme de Dolan, e o sexto em Cannes. Todos passaram em diferentes sessões do festival. Foram premiados. Em 2014, Mommy dividiu o prêmio especial do júri com Jean-Luc Godard, Adeus à Linguagem. Juste la Fin du Monde baseia-se numa peça autobiográfica de Jean-Luc Lagarce. O autor (gay) volta para casa para anunciar que está morrendo - e Lagarce morreu de aids, nos anos 1990. A mãe, a irmã, o irmão, a cunhada. Filmando em primeiros planos, como se quisesse devassar a alma de seus personagens, Dolan mostra o que as palavras não exprimem, o que não pode ser dito. O filme é esplendidamente realizado e interpretado.
Gaspard Ulliel faz o filho pródigo e o restante do elenco é de sonho. Natalie Baye, Marion Cotillard, Léa Seydoux, Vincent Cassel. A trilha é de Gabriel Yared. Mais uma lição de cinema do jovem diretor canadense de 27 anos (nasceu em 1989). Será que por que ele é jovem, bonito, talentoso - e chique? Defender Dolan virou uma plataforma de cinéfilos. Há, sim, preconceito contra ele.
A dois dias da premiação, só se pensa aqui em quem vai levar a Palma. Ainda faltam filmes importantes, incluindo Elle, de Paul Verhoeven, com Isabelle Huppert. Aquarius, o representante brasileiro, vai levar alguma coisa? O quê? E, claro, tivemos os romenos. O primeiro, Sierra Nevada, de Cristi Puiu, havia sido muito bom - e poderia ser candidato, com Dolan, ao prêmio de mise-en-scène. O segundo chegou ontem, quinta, 19. Cristian Mungiu já ganhou a Palma com Quatro Meses, Três Semanas e Dois Dias. Ele volta com Baccalauréat, coproduzido pelos irmãos Dardenne, que concorrem de novo a mais uma Palma (a terceira?) por La Fille Inconnue, A Garota Desconhecida. Ninguém, seriamente, acredita numa nova Palma dos Dardennes. Já Mungiu...
O filme dele investe no social sem negligenciar a dramaturgia nem o desenho dos personagens. Um médico e sua mulher. Preparam a filha para os exames finais e desses resultados depende a ida dela para a Inglaterra. É o sonho dos pais, ou do pai, mais que da filha. Na véspera da prova, ela sofre uma tentativa de violação, e desmorona. Embora seja crítico da corrupção na Romênia, papai percorre a cadeia de influências para garantir que a filhota seja aprovada. O responsável pelos exames está sendo investigado. Seu telefone está grampeado. Lava Jato romena, as pequenas questões éticas do cotidiano. A rigor, Baccalauréat talvez não seja grande quanto os filmes anteriores de Mungiu - como Beyond the Hills, premiado em 2012. Mas é muito bom.
Cannes foi a vitrine do novo cinema romeno. Dois filmes na competição não representam pouca coisa. Dois filmes premiáveis, então, são a prova de que a crise da Romênia (corrupção, violência, desemprego) pode ser uma tragédia, mas rende ótimos filmes.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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