Política Titulo Efeitos na região
Esperança e frustração com Dilma Rousseff

Para a agora presidente afastada, região
se resumiu a Lula e promessas sem efetivação

Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
15/05/2016 | 07:55
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Divulgação


O governo de Dilma Rousseff (PT) foi interrompido – ainda provisoriamente – na semana passada e, para o Grande ABC, o sentimento de otimismo com a eleição da primeira mulher para comandar o País se transformou em frustração e esquecimento por parte das sete cidades. Esse cenário negativo é que o presidente interino da República, Michel Temer (PMDB), terá de reverter na região em até 180 dias.

Eleita em 2010 com 796.993 votos do Grande ABC no segundo turno contra José Serra (PSDB), Dilma carregava esperança de olhar regional dos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), morador de São Bernardo. Mas, nas ações da agora chefe afastada da Nação, a região se resumia apenas a visitas a Lula.

Desde que tomou posse, em 1º de janeiro de 2011, Dilma esteve oito vezes na região, apenas quatro delas em agendas institucionais – inauguração do Hospital de Clínicas em 2013, abertura do Centro de Especialidades Odontológicas em 2014, participação de congressos de agricultores em 2015 e anúncio de pacote de investimentos às sete cidades em 2013 (todas as solenidades em São Bernardo). Nas demais vezes, foi para o apartamento de Lula, na região central de São Bernardo, ou pedir votos em sua campanha eleitoral de 2014, também na cidade do padrinho político. A última passagem dela pela região foi em março, dias depois de Lula ser levado pela PF (Polícia Federal) para dar depoimento coercitivo sobre investigações da Operação Lava Jato.

Em seu quadro de ministros, apenas um político da região teve prestígio desde o início da gestão Dilma: Miriam Belchior (PT-Santo André). Miriam comandou o Ministério do Planejamento no primeiro mandato, chefiando diretamente o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Em 2015, foi transferida para a presidência da Caixa Econômica Federal. Figuras regionais indicadas por Lula foram escanteadas no segundo mandato, caso de Gilberto Carvalho (deixou a Secretaria-Geral da Presidência para o comando do Sesi). Arthur Chioro (PT-São Bernardo) não resistiu à frente do Ministério da Saúde quando o PMDB, em seus últimos movimentos de aliança, exigiu mais espaço no primeiro escalão de Dilma para continuidade da coalizão.

O esquecimento de Dilma para políticos do Grande ABC impactou diretamente nos governos municipais, principalmente os do PT. Em 2012, candidatos petistas usavam Dilma como garota-propaganda e canal direto para investimentos federais – Carlos Grana, em Santo André, Luiz Marinho, em São Bernardo, e Donisete Braga, em Mauá, se elegeram prefeitos calcados nesta relação.

O ápice da lua de mel aconteceu em 19 de agosto de 2013, quando Dilma veio ao Paço de São Bernardo e, num evento com cerca de 100 prefeitos do Estado, anunciou que o Grande ABC teria aporte federal de R$ 2,1 bilhões, pedido feito por intermédio do Consórcio Intermunicipal – recursos principalmente para obras de Mobilidade Urbana. A conexão foi tamanha que o único prefeito do PSDB na região, Gabriel Maranhão, de Rio Grande da Serra, peitou o tucanato e anunciou que votaria e faria campanha pela reeleição de Dilma. Quase foi expulso da legenda.

Mas já durante a campanha presidencial de 2014 a ligação forte ruiu. As promessas feitas um ano antes não se efetivavam. Prazos foram esticados. Ministros de Dilma eram confrontados pelos prefeitos sobre quando as intervenções se tornariam realidade e multiplicavam as desculpas. O resultado veio nas urnas: Dilma recebeu 642.327 votos no segundo turno contra Aécio Neves (PSDB), menos do que em 2010.

A lista de obras paradas com recursos federais cresceu. E isso se deu independentemente de cidade ou de partido político do prefeito. Ainda há projetos só no papel no governo petista de Grana em Santo André, no do verde Lauro Michels em Diadema ou no do peemedebista Saulo Benevides em Ribeirão Pires.

Único prefeito com canal direto com Dilma – por força de Lula –, Marinho publicamente reclamou da chefe da Nação. “O governo tem de avaliar o tamanho do seu problema e a cirurgia que tem de fazer para resolver o problema. A presidente Dilma tem de fazer a cirurgia certa. Só temo que a cirurgia tenha uma barbeiragem e o paciente continue enfermo. Mas é com ela”, disse ele, em setembro. 




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