Economia Titulo Crise
Montadoras de São Bernardo têm excedente de 4.100 pessoas

Mão de obra ociosa é resultado da queda de
45,8% na produção de veículos em três anos

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
10/05/2016 | 07:22
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Adonis Guerra/Divulgação


Cerca de 16% do efetivo das três maiores montadoras de veículos de São Bernardo – Ford, Mercedes-Benz e Volkswagen – correm risco real de ser demitidos nos próximos meses. O grupo, de aproximadamente 4.100 trabalhadores, é considerado pelas empresas como mão de obra excedente. Ou seja, já não são mais necessários para manter a produção nos níveis atuais. Juntas, as fábricas das três companhias no Grande ABC empregam 25,6 mil funcionários.

A ociosidade na indústria automotiva é consequência direta da queda nas vendas de veículos no País, situação provocada pelo desemprego, diminuição da renda, insegurança da população em relação ao cenário econômico e político e restrição ao crédito. Segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), entre março de 2013 e o mesmo mês de 2016, a produção teve retração de 45,8%. Nesse mesmo período, 6.059 trabalhadores formais (com carteira assinada) foram demitidos somente em São Bernardo, de acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Previdência Social.

Para evitar os cortes, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC negocia medidas alternativas, como lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho), férias coletivas e PPE (Programa de Proteção ao Emprego) – plano emergencial criado no ano passado pelo governo federal e que permite que as empresas em crise que se enquadrem nas regras reduzam em até 30% a carga horária e os salários pagos por até 24 meses.

O problema é que as indústrias do setor estão resistentes a aceitar a renovação dessas medidas. A primeira a anunciar publicamente o desinteresse no PPE foi a Mercedes-Benz. Na semana passada, o presidente da empresa para a América Latina, Philipp Schiemer, declarou que o programa “perdeu a utilidade” para a companhia. Tal anúncio provocou paralisação de um dia na fábrica de São Bernardo, que conta com 9.800 funcionários, sendo 1.500 em licença remunerada desde fevereiro, e fala em excedente de 2.000 pessoas (20,4% do total). O PPE vence no dia 31 e, segundo o presidente do sindicato, Rafael Marques, a montadora ainda não negocia com a entidade.

Mesma situação provocou a interrupção das atividades na planta da Ford ontem. Marques afirma que a direção da companhia também manifestou que não pretende renovar o PPE, que acaba no dia 15, nem o lay-off, cujo prazo expira em junho, e envolve 356 operários. A unidade possui aproximadamente 3.800 empregados e, segundo a empresa, tem 1.100 empregados ociosos (29% do total). Será realizada reunião hoje para negociar o futuro desses operários. A Ford confirma as tratativas com a entidade sindical.

Na Volkswagen, onde também foi feita paralisação de 24 horas na semana passada, 12 mil pessoas estão no quadro de funcionários, sendo que 1.000 são consideradas excedentes (8,3% do total). Na planta de São Bernardo, 2.600 estão em lay-off e praticamente todos os trabalhadores estão no PPE, cuja adesão foi feita em setembro. De acordo com Marques, na época da assinatura do acordo, a montadora havia sinalizado que pretendia fazer a renovação após o término do primeiro prazo. “O problema é que na Ford também haviam dito isso, mas agora recuaram”, lamenta o sindicalista. A empresa foi procurada, mas disse que não iria se manifestar.

Marques se diz preocupado porque há três semanas a direção da Volks está sendo procurada, mas não se pronuncia.

“Temos que superar essa crise preservando os empregos. Aceitamos falar em melhora da competitividade nas fábricas, desde que isso não gere demissões”, comenta o presidente do sindicato, que acrescenta que, em momentos de turbulências econômica e política, os empresários aproveitam para tentar emplacar reformas trabalhistas e previdenciárias.

Segundo Marques, as fábricas da Scania e na Toyota estão operando adequadamente. A primeira porque exporta 70% de sua produção e, a última, porque tem se saído bem nas vendas de veículos.
 




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