Economia Titulo Em São Bernardo
Karmann tem contrato com novos investidores; fábrica não será vendida

Ao contrário do que havia sido dito pelo Sindicato;
operação depende de imbróglio envolvendo príncipe

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
03/05/2016 | 07:30
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Fabio Munhoz/DGABC


A direção da Karmann Ghia diz já ter fechado contrato com um grupo de investidores que irá injetar capital na fábrica de autopeças, localizada em São Bernardo. A homologação do acordo, entretanto, depende de a Justiça se posicionar oficialmente a respeito do impasse envolvendo o controle acionário da empresa, que na Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo) consta como pertencente a Eudes Maria Regnier Pedro José de Orleans e Bragança, que é trineto do imperador Dom Pedro II e bisneto da Princesa Isabel.

O imbróglio ocorre porque, em 2014, dom Eudes assinou contrato de venda da Karmann para a empresária Maristela Astorri Nardini. Poucos meses depois da transação, o príncipe requereu no Poder Judiciário o cancelamento do negócio, alegando que a compradora “deixou de honrar o pagamento da parcela com vencimento para agosto de 2014 e das demais que foram ajustadas”.

A defesa de Maristela, por outro lado, argumenta que, no processo de venda, houve “alienação de quotas sociais”, que ocultaram passivo não declarado de mais de R$ 20 milhões, superior ao preço de aquisição da Karmann Ghia. O motivo dessa afirmação é o fato de o grupo ILP Participações, que constava como integrante do grupo societário até 2014 e é ligado a dom Eudes, ter adquirido empresas deficitárias, entre elas a metalúrgica Quasar, de Mauá, que está em recuperação judicial.

Enquanto aguarda os desdobramentos judiciais, a diretora da Karmann Ghia Mônica Marani afirma que já foi assinado contrato com a empresa Gitan Incorporação e Construção, que, segundo a Jucesp, possui capital no valor de R$ 1 milhão e é sediada na Avenida das Nações Unidas, no bairro do Brooklin, em São Paulo. Ela esclarece, entretanto, que a fábrica não será vendida, como havia sido informado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. “Trata-se somente de um investidor”, garante, sem mencionar valores.

Na tarde de ontem, sindicalistas fizeram assembleia para informar sobre o andamento das negociações com a Gitan. Segundo os trabalhadores, a Justiça deve se posicionar na semana que vem a respeito do impasse envolvendo o príncipe. Caso o Poder Judiciário entenda que a transação só poderá ser efetivada depois de uma decisão judicial sobre a venda da empresa em 2014, o novo contrato pode ser cancelado, o que colocaria em risco os cerca de 330 empregos na fábrica. Isso porque, segundo o presidente do sindicato, Rafael Marques, a única chance de a firma continuar na ativa é sendo vendida ou recebendo investimentos externos. O passivo da companhia informado é de aproximadamente R$ 7,7 milhões. A situação da empresa é provocada pela crise no setor automotivo, já que 70% de sua demanda vem da fábrica da Fiat em Minas Gerais.

Após a assembleia, representantes do sindicato deixaram a fábrica sem falar com a equipe do Diário. A assessoria de imprensa da entidade diz não ter informações concretas sobre o negócio. Representantes da Gitan não foram localizados para comentar sobre o assunto.

INSEGURANÇA - Enquanto esperam por uma definição, os empregados da fábrica seguem em situação complicada. Os trabalhadores estão paralisados desde o início de abril por não terem recebido salários. Até os ex-funcionários sofrem com o calote. Um operário demitido em agosto do ano passado e que pediu anonimato revela que ainda não recebeu o valor das verbas rescisórias referentes aos 18 anos em que atuou na Karmann Ghia. “O que queremos é uma solução rápida. Não é possível que sejamos responsabilizados por todos esses problemas envolvendo os diretores”, comenta.
 




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