Turismo Titulo
Conforto a dois
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
19/05/2011 | 07:52
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Já se foi o tempo em que Visconde de Mauá era reduto de hippies descolados, com discurso anarquista e estilo de vida, digamos, nada convencional. É bem verdade que alguns deles - bem menos politizados que os da década de 1970 - ainda fazem a fama da Vila de Maromba. Mas a simplicidade por eles pregada no passado está longe de imperar nos dias de hoje. Muito pelo contrário: a cada ano que passa, este charmoso recanto da serra fluminense, situado próximo à divisa com Minas Gerais e a pouco mais de 300 quilômetros do Grande ABC, vê crescer o número de pousadas de luxo e restaurantes de comida sofisticada, elaborada com esmero por chefs que um dia decidiram largar a cidade grande para fincar raízes na região em busca de sossego, ar puro e água limpa.

"O clima aqui é muito bom. Você tem de dormir com cobertor o ano inteiro e há água em abundância. O povo também é muito artista. Todo mundo tem o seu negócio, mas ninguém monopoliza o turismo. Tanto que há mais de 150 pousadas, todas com poucos leitos. Nenhum empresário aqui fica rico, mas consegue viver bem, e com qualidade de vida", afirma o andreense Julio Buschinelli, 65 anos, que deixou o Grande ABC para montar um restaurante neste trecho da serra fluminense.

Também é importante abrir parêntese quanto à localização de Visconde de Mauá: a serra, embora também pertença ao Estado do Rio de Janeiro, não tem nada a ver com a que foi devastada pelas chuvas do início do ano, que deixaram milhares de desabrigados na região turística de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. Para ir de uma cadeia de montanhas à outra, o motorista teria de dirigir mais 200 quilômetros pela Via Dutra até a Cidade Maravilhosa e depois seguir outros 70 montanha acima.

Mas isso não significa que as estradas de Visconde de Mauá estejam livres do risco de quedas de barreiras e deslizamentos de terra na época das torrenciais chuvas de verão. Para melhorar o acesso que parte da Via Dutra por 27 intermináveis quilômetros em estrada de terra cheia de buracos e trechos sinuosos, o poder público tem investido na pavimentação da estrada-parque que deverá interligar toda a região. De qualquer forma, vale optar pela viagem à luz do dia, quando a neblina e os perigos ao volante diminuem.

Quando as obras forem concluídas - a princípio, esperava-se ter tudo pronto até o fim de 2010 -, o turista passará a ter de pagar um ‘pedágio' ambiental. A taxa faz parte de um ambicioso projeto que deverá controlar a entrada de carros e poderá culminar na ampliação da área de preservação.

 

AO PÉ DA LAREIRA

Passado o calvário do percurso, é hora de desfrutar do conforto e das belezas naturais que fazem de Mauá um dos recantos mais românticos do Brasil, meca de dez entre dez casais apaixonados durante o inverno, quando o frio pede um fondue ou vinho a dois de frente para a lareira.

E opções de hospedagem charmosas não faltam para acolher pombinhos. A começar pelo Fronteira Arte e Hotelaria, que faz o hóspede se sentir em uma eterna vernissage. Obras de arte, livros raros, tapetes persas, peças de antiquário, talheres de prata e louças antigas escolhidas a dedo pela dona Giovana Martinelli são vistos por toda parte. Até a piscina, de água natural, possui iluminação especial, para cromoterapia. E as instalações ainda contam com heliponto, spa, academia, horta orgânica e chalés duplex, de até 150 metros quadrados, equipados com lareira, banheira de hidromassagem, lençóis de bambu pure fiber (bactericida natural que esquenta no frio e esfria no calor), ionizador, calefação e paredes envidraçadas com vista para um bosque de pinheiros.

Para garantir a privacidade dos casais, o hotel não hospeda menores de 15 anos. Essa exclusão, aliás, é comum entre os estabelecimentos de hospedagem de Visconde de Mauá, já que a maioria tem casais como público alvo, tornando lareiras e jacuzzis itens praticamente obrigatórios em quase todas as acomodações.

Mordomias à parte, cada hotel possui charme próprio. O Tijupá guarda o estilo das hospedarias de afastados cantões suíços, com cinco chalés de madeira avarandados e edredons de plumas de ganso com controle de temperatura, entre outras regalias. No verão, dá para se arriscar na piscina de águas naturalmente geladas após a sauna. E quando o frio abre o apetite, lá está o chef carioca Luiz Felipe Coimbra Ferreira para agraciar os casais com suas pastas e o seu bom humor (veja Guia de Viagem na página 5).

Arte e duchas naturais também são atrativos da Pousada Casa Bonita, cujos fundos são banhados pelo onipresente Rio Preto. Enquanto os hóspedes relaxam em espreguiçadeiras à beira-rio, a proprietária e arteterapeuta Cássia Freitas pinta telas em seu ateliê utilizando técnicas nada convencionais. Suas últimas criações impressionam as retinas com tons impactantes de azul e roxo. "Uso violeta de genciana e permanganato de potássio, que reagem entre si. Essa fase artística já tem um ano e meio", afirma a artista plástica.

E no Rancho das Framboesas, a arte encontra a ecologia em chalés aconchegantes, projetados pelo dono e arquiteto Ronaldo Alcaraz e decorados com esmero por sua mulher, Lili Gambá, que se encarregou de adornar todos os ambientes com mandalas, velas, discos antigos, motivos indianos e flores pintadas à mão até nos degraus da escada.

A preocupação com o meio ambiente se faz presente em cada detalhe: a automação das luzes ajuda a economizar energia; faz-se compostagem; a água da chuva é captada e centenas de embalagens de leite tetrapack se encarregam de fazer o isolamento térmico no telhado.Spa com ofurô ao ar livre, sauna seca e uma funicular que leva aos chalés da parte de cima do terreno completam as instalações em perfeita harmonia com a natureza e o cosmos.




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