Economia Titulo
Cai o nível de confiança da indústria
Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
22/09/2011 | 07:30
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Os empresários brasileiros da área industrial estão bem menos otimistas neste ano. Estudo feito pela Confederação Nacional da Indústria mostra que o índice de confiança no segmento caiu sete pontos, ao passar de 63,4 em setembro do ano passado para 56,4 neste mês (em escala que vai de zero a 100, abaixo de 50 revela pessimismo e, acima disso, otimismo). O quadro pouco animador atrapalha na tomada de decisões de investimentos por parte das companhias, segundo os especialistas.

Na comparação com o mês passado, o indicador ficou estável, em 56,4 pontos. No entanto, entre os quesitos que compõem o índice, o que se refere à situação atual da economia brasileira aponta quadro pessimista - houve redução de 44,5 em agosto para 44,2 pontos - embora as condições dos negócios tenham tido ligeira melhora (de 49,5 para 50,4). Quanto às expectativas para os próximos seis meses (em relação ao cenário econômico quanto ao rumo dos negócios), caiu de 60,7 para 60,4 pontos.

Os números da pesquisa mostram ainda tendência de queda gradual na confiança das companhias desde fevereiro de 2010. Segundo o economista da CNI Marcelo de Ávila, vários fatores contribuem para isso. Após as fabricantes se recuperarem dos efeitos da crise de crédito global, com a ajuda de incentivos tributários por parte do governo, as perspectivas da indústria pioraram.

Ávila avalia que a deterioração da demanda global e a desvalorização do real ao longo do ano passado e deste ano, com o forte crescimento das importações, contribuíram para esse cenário. "A demanda interna cresce em patamares elevados, mas está sendo absorvida pela importação", assinala.

Um exemplo são os carros fabricados no Exterior e comercializados pelas importadoras no Brasil, os quais tiveram expansão de 112% de janeiro a agosto frente a igual período do ano passado.

Além disso, as atuais condições difíceis da economia europeia, sobretudo em países como Itália, Grécia e Espanha, são motivo de preocupação, avalia o diretor titular da regional do Centro das Indústrias no Estado de São Paulo, William Pesinato. "Com certeza, isso repercute no Brasil", afirma.

DÓLAR - Para Ávila, a minidesvalorização do real - o dólar atingiu ontem R$ 1,85, maior patamar desde maio de 2010 -, que pode dar mais competitividade à indústria nacional frente aos importados, ainda não pôde ser captada totalmente nessa pesquisa (concluída no dia 19).

No entanto, ele não acredita em reversão da tendência de piora da confiança nos próximos meses. Mesmo em relação à redução da taxa básica de juros (a Selic), pelo Banco Central, o economista explica que a medida traz fôlego para a tomada de crédito, mas o impacto demora de quatro a sete meses para ser sentido no setor industrial. Desa forma, só terá reflexos em 2012.

 

Regime automotivo não anima empresas de autopeças

A criação do programa de regime automotivo, que estabelece a exigência de 65% de conteúdo nacional ou regional (de compras de peças no País ou no Mercosul) dos carros para as montadoras brasileiras não terem aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados, não animou a indústria de autopeças.

Para Mario Milani, conselheiro do Sindicato Nacional das Indústrias de Peças e Componentes Automotores e que comanda empresa de buzinas automotivas em São Bernardo, não há motivo para otimismo. "(O aumento do IPI) foi muito bom para as montadoras nacionais, mas para as autopeças não vai nos afetar", afirmou.

Ele cita que, da maneira como foi redigido o decreto, os 65% incidem sobre o preço de venda, e não sobre o custo dos carros. "Sobre o preço, entra o lucro da montadora, gastos com folha de pagamento, publicidade e os gastos com tudo que é terceirizado, como restaurante, portaria, segurança, todos os custos fixos." Segundo o dirigente, por esse critério, as despesas com peças nacionais não superam 20%. "Não muda nada", afirma.

Avaliação semelhante tem o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Autopeças, Renato Ayres Fonseca. Segundo ele, o aumento do IPI para carros importados poderá apenas arrefecer o crescimento de novas marcas, mas não conseguirá reverter o quadro da balança comercial de autopeças. Neste ano, até agosto, o deficit da balança soma US$ 2,66 bilhões, 23% mais que no mesmo período de 2010.

Assim como Milani, Fonseca considera que o governo deveria adotar como instrumento para ajudar o setor a elevação do Imposto de Importação. Na área de autopeças, o II gira em 14% a 18% e, portanto, haveria condições de elevar a 35%, sem que se desrespeitasse normas da Organização Mundial do Comércio.




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