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Mercado de crédito passará por prova
28/02/2010 | 07:42
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A partir do segundo trimestre o crescimento do mercado de crédito passará por uma prova. No dia 1º de abril acabam alguns dos incentivos criados no auge da crise e a oferta de recursos deve diminuir ao mesmo tempo em que custos tendem a subir.

Serão cerca de R$ 120 bilhões a menos na capacidade de empréstimo dos bancos e o fim de abatimentos no depósito compulsório. O ‘desarme' dos benefícios é a primeira etapa do aperto monetário esperado pelo mercado financeiro para combater a alta da inflação.

Será uma ação preliminar à alta do juro esperada também para abril. Na autoridade monetária, o fim das medidas é tratado como fato importante porque, indiretamente, pode gerar desaceleração no ritmo de expansão dos financiamentos.

Não será um pé no freio do crédito, mas será como tirar momentaneamente o pé do acelerador. Na expectativa de que o crédito deve passar a crescer mais lentamente, alguns economistas não descartam que o efeito dessas medidas pode, inclusive, amenizar a intensidade da alta da Selic esperada para começar em abril.

A mudança que vai gerar impacto imediato é a que acaba com uma regra que incentivava a criação de reserva adicional contra calote nos empréstimos. Na crise, o BC queria aumentar a segurança dos bancos e, ao mesmo tempo, não queria que o crédito perdesse fôlego. Para isso, autorizou que o sistema financeiro reservasse provisão extra contra inadimplência sem que sua capacidade de gerar novos financiamentos fosse reduzida.

Os bancos mantêm atualmente R$ 97,5 bilhões em provisão contra calotes. O valor é superior ao exigido pela lei, que determina um valor conforme o volume e risco dos empréstimos. Por esse cálculo, bancos têm R$ 14,1 bilhões em provisões adicionais. Até 31 de março, esse valor não será descontado do caixa. Mas a partir de 1º de abril essa reserva terá de ser abatida do capital do banco, o que diminui sua capacidade de emprestar.

Com a redução do patrimônio em R$ 14,1 bilhões, instituições financeiras terão pelo menos R$ 120 bilhões a menos para repassar aos clientes. A cifra é relevante e é comparável à concessão de novos financiamentos para empresas e pessoas físicas em todo o segundo semestre de 2009, quando foram repassados R$ 133 bilhões nos seis meses.

Compulsório - O outro benefício que será desarmado é o que autoriza o abatimento do depósito compulsório de bancos que comprarem carteiras de crédito de instituições menores. O estímulo foi criado para dar liquidez às casas de pequeno porte.

Para isso, é concedido desconto na parcela do recolhimento obrigatório que deve ser feito em dinheiro e que não tem remuneração no BC. Quem comprar carteira até 31 de março ainda tem o desconto, mas o abatimento só vale enquanto vigorarem as operações adquiridas.

Conforme elas forem sendo liquidadas, o banco deixa de ter o benefício e o recolhimento volta a ser feito normalmente - com 55% do compulsório dos depósitos a prazo em espécie e 45% em títulos.

A medida deve ter efeito gradual porque depende da liquidação das operações. Mas com o tempo o banco terá uma fatia maior do compulsório sem remuneração. Isso deve ser compensado de alguma forma porque o investidor que aplicou dinheiro no banco espera a rentabilidade combinada. Para conseguir pagar essa taxa ao depositante, a instituição tende a elevar o juro de quem toma esse dinheiro emprestado para "compensar" o prejuízo gerado pelo maior compulsório sem remuneração no BC.




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